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Documento “GEO 5 For Youth” reúne dezenas de atitudes para crianças e adolescentes transformarem o planeta em um lugar melhor – em uma década, um ano e, até, um segundo. O relatório foi apresentado durante a Conferência Internacional da Juventude Tunza, promovida, no Quênia, pelo Pnuma. 




Cerca de 250 jovens de mais de cem países comemoraram o Carnaval de maneira diferente da maioria das pessoas da sua idade. À convite das Nações Unidas (ONU), eles participaram da edição 2013 da Conferência Internacional da Juventude TUNZA, que aconteceu entre os dias 10 e 14 de fevereiro, na cidade de Nairóbi, no Quênia. 

Com o tema Saúde e Meio Ambiente, o evento discutiu ações que podem - e devem - ser adotadas por crianças e adolescentes, tendo em vista o desenvolvimento sustentável do planeta, e lançou o documento TUNZA Acting for a Better World: GEO 5 for Youth, cujo nome faz referência ao relatório periódico do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) a respeito da situação global do meio ambiente, conhecido como GEO 5. 

Dividido em três grandes seções - Nosso Mundo e os Desafios de Hoje, O Futuro que Queremos e Contagem Regressiva para a Mudança -, o relatório faz um resumo da atual situação do planeta, reúne os principais resultados da Conferência da ONU sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20), que aconteceu em junho de 2012, e lista ações simples que podem ser implementadas pelos jovens dispostos a "sair da inércia" e contribuir, de verdade, para a transformação do mundo que vivemos. Confira, abaixo, algumas delas.


COMO OS JOVENS PODEM MUDAR O MUNDO?

 Em um segundo: 
  • Apagar as luzes quando sair de um lugar; 
  • Tirar aparelhos da tomada, se não estiverem sendo usados;
  • Desligar o computador quando for dormir;
  • Utilizar papel reciclado;
  • Usar pilhas recarregáveis, em vez das descartáveis e
  • Não utilizar pesticidas, herbicidas e produtos químicos.
 Em um minuto: 
  • Fechar a torneira enquanto escova os dentes e não deixar que os colegas de casa façam diferente;
  • Comprar produtos locais;
  • Consumir de forma responsável, pensando no que está comprando e em sua procedência;
  • Verificar o rótulo dos produtos;
  • Evitar artigos embalados;
  • Não comprar produtos feitos de madeira tropical;
  • Evitar o uso de sacolas plásticas e 
  • Twittar suas ações para inspirar outras pessoas.
 Em 11 minutos: 
  • Tomar banhos rápidos a uma temperatura mais baixa;
  • Conversar com as pessoas a respeito da importância de mudar de atitude; 
  • Restaurar roupas antigas, em vez de comprar novas; 
  • Instalar temporizadores nas lâmpadas e 
  • Trocar as lâmpadas incandescentes por fluorescentes ou LED. 
 Em uma hora: 
  • Fazer um grafite de musgo (Leia também: Receita de grafite verde feito de musgo);
  • Usar transporte público; 
  • Escrever suas experiências em um blog; 
  • Fazer cartazes coloridos com dicas ambientais e espalhá-los em locais públicos; 
  • Confeccionar presentes, em vez de comprá-los e 
  • Ser um Guardião de Árvores Locais e proteger os exemplares do seu bairro. 
 Em um dia: 
  • Passar o dia em uma floresta, fazer caminhadas, acampar e entrar em contato com a natureza;
  • Celebrar o Dia da Terra, em 22/04, ou o Dia do Meio Ambiente, em 05/06;
  • Fundar uma organização em prol do meio ambiente;
  • Iniciar um mutirão semanal ou mensal de limpeza no bairro e
  • Escrever um artigo a respeito da importância da preservação do meio ambiente e enviá-lo aos jornais locais. 
 Em uma semana: 
  • Tentar viver sem plástico ou sem comprar nada durante uma semana - e envolver os amigos nesse desafio;
  • Ler um livro que ofereça informações sobre os atuais problemas ambientais;
  • Começar um projeto na sua escola ou universidade;
  • Captar recursos financeiros para uma boa causa e
  • Incentivar os governantes a apoiar causas ambientais e formas renováveis de energia. 
 Em um mês: 
  • Ser voluntário em um parque nacional;
  • Viajar usando transporte público e fazer workshops por onde passar; 
  • Traduzir o documento GEO 5 for Youth para o seu idioma; 
  • Fazer uma peça de teatro ecológica com os amigos; 
  • Tricotar um suéter para alguém que conhece; 
  • Transformar seu bairro em um exemplo para a região e 
  • Recuperar uma área verde pública, como uma praça. 
 Em um ano: 
  • Começar uma ONG e mobilizar as pessoas para que participem dela;
  • Criar e gerir um negócio sustentável que priorize o meio ambiente;
  • Envolver-se em uma campanha;
  • Reduzir sua pegada de carbono ou a da sua comunidade; 
  • Cultivar seus próprios vegetais;
  • Usar fontes de energia mais limpas e renováveis;
  • Economizar dinheiro ao instalar painéis solares em casa.
 Em uma década: 
  • Mudar seu estilo de vida e transformar os valores das pessoas que o cercam;
  • Aumentar a capacidade, vontade e entendimento sobre o desenvolvimento sustentável;
  • Focar a sua carreira em algo que beneficie o planeta;
  • Manter-se fiel a suas crenças, dedicando-se à causa do desenvolvimento sustentável;
  • Fazer a sua marca na história, deixando o planeta em um estado melhor do que quando chegou nele.


Leia o documento TUNZA Acting fora Better World: GEO 5 for Youth na íntegra, em inglês.

Fonte: Planeta Sustentavel

Anvisa constata uso de agrotóxicos não autorizados no plantio de diversos alimentos

foto: divulgação


Num momento em que se disseminam os benefícios de uma alimentação saudável, com frutas, verduras e legumes, especialistas alertam para os riscos dessa opção. Isso porque o Brasil é o maior consumidor de agrotóxicos do mundo, mas a fiscalização é falha.
De 2002 a 2012, o mercado brasileiro de agrotóxicos cresceu 190%. O setor movimentou US$ 10,5 bilhões, em 2013, ano de ouro para a agropecuária, que teve supersafra e preços de commodities em alta. A análise dos alimentos que vão à mesa do consumidor, porém, é bem restrita. No último relatório da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), de 2012, foram analisadas 3.293 amostras de apenas 13 alimentos - 5% do que é avaliado por EUA e Europa. Desses, o resultado de apenas sete foram publicados até agora.
Nos EUA, a Food and Drug Administration (FDA), e na Europa, a European Food Safety Authority (EFSA), analisam cerca de 300 tipos de alimentos por ano, inclusive industrializados. No Brasil, produtos como carnes, leite, ovos e industrializados não são sequer pesquisados, apesar de especialistas alertarem que eles podem estar contaminados por agrotóxico.
A reportagem é de Andrea FreitasClarice Spitz e Eliane Oliveira e publicada pelo jornal O Globo, 30-01-2014.
Anvisa confirmou que, em 2012, só 13 alimentos foram monitorados, mas informou que a tendência é de expansão do número de culturas. O enfoque do Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos, explicou, são os itens mais consumidos pela população e importantes na cesta básica. Segundo a Anvisa, o milho está sendo monitorado desde 2012 na forma de fubá, e o trigo passou a ser monitorado na forma de farinha desde 2013, mas o resultado ainda não foi divulgado.
Registro não tem prazo de validade
A falta de fiscalização de agrotóxicos faz parte da série “No país do faz de conta”, iniciada no domingo pelo jornal O Globo. Hoje, 434 ingredientes ativos e 2.400 formulações de agrotóxicos estão registrados nos ministérios da Saúde, da Agricultura (Mapa) e do Meio Ambiente e são permitidos.
Dos 50 mais utilizados nas lavouras, 22 são proibidos na União EuropeiaMato Grosso é o maior consumidor, com quase 20%, segundo a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco).
O contrabando, sobretudo via Paraguai e Uruguai, de produtos de origem chinesa, sem controle dos aditivos, representa outro problema. E o uso ilegal de agrotóxicos preocupa. O DTT, proibido em todo o mundo, foi achado em 2013 na Amazônia, usado por empresas, segundo o Ibama, para acelerar a devastação de áreas.
Sobre os 22 defensivos proibidos, os técnicos da Anvisa explicam que, no país, o registro de agrotóxico não tem prazo de validade. Uma vez concedido, só pode ser retirado ou alterado após reavaliação que mostre mudança no perfil de segurança do produto. A agência iniciou processo de reavaliação em 2008 que resultou, até agora, no banimento de quatro produtos e no reenquadramento de dois.
O custo dos agrotóxicos à saúde é grande. Segundo o professor Fernando Carneiro, da Universidade Brasília, a cada US$ 1 gasto em agrotóxico, há um custo de US$ 1,28 em atendimento ao intoxicado.
- A intoxicação aguda afeta o trabalhador rural e o da fábrica. A crônica atinge o consumidor, que fica mais exposto a doenças como câncer e alterações metabólicas. O Mapa e as secretarias de agricultura têm dinheiro para monitorar e vigiar gado por causa da exportação. Quando se fala em agrotóxicos, não há estrutura nem fiscais.
Para a professora Karen Friedrich, do Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde, da Fiocruz, a fiscalização na carne que chega aos lares deveria ser iniciada o quanto antes:
- A contaminação deve ocorrer em industrializados, como molho de tomate e suco em caixa.
Karen diz que é preciso que os municípios e estados atuem onde ocorre a contaminação e que falta investimento para ampliar a análise, embora a Anvisa “faça milagre com o que dispõe".
Para os trabalhadores rurais, o cenário de fiscalização também é de restrições. Cerca de um quarto das fazendas recenseadas no país em 2006, ou 1.376.217, declaravam usar agrotóxicos. Segundo a Secretaria de Agricultura do Estado do Rio, no ano passado foram autuadas 420 das 680 propriedades rurais fluminenses por irregularidades envolvendo agrotóxicos. Joel Naegele, vice-presidente da Sociedade Nacional de Agricultura, critica:
- Num país onde o clima favorece parasitas e pragas danosas, não há fiscalização. Há 60 anos acompanho a agricultura e é tudo muito mal feito, papo-furado, ilusões. Se dependermos da ação do governo, estamos num mato sem cachorro.
Para governo, lei é rígida e moderna
O coordenador geral de agrotóxicos e afins do Mapa, Júlio Sérgio Brito, assegura que o sistema de controle é tão avançado quanto os dos principais países do mundo. Segundo Brito, a legislação é "rígida, moderna e profunda". Para ser aprovado para uso agrícola, explica, o produto é avaliado sob os pontos de vista agronômico, de saúde e ambiental.
Eloisa Dutra Caldas, professora de Toxicologia da UnB, diz que o problema está no fato de haver resíduos de agrotóxicos em produtos para os quais seu uso não está autorizado:
- Cerca de 50% das mais de 14 mil amostras analisadas por Anvisa e Mapa até 2010 continham resíduos de pesticidas. Este percentual não é muito diferente do encontrado no resto do mundo.
Henrique Mazotini, presidente da Associação dos Distribuidores de Insumos Agropecuários (Andav), no entanto, reconhece que há desvios:
- Aqui falta gente e infraestrutura. Além disso, o Brasil sucateou sua extensão rural e falta orientação técnica aos produtores.
Frequentadores da feira livre da Praça Nossa Senhora da Paz, em Ipanema, se mostram preocupados. O aposentadoJosé Barbosa gostaria de saber quais agrotóxicos incidem sobre os alimentos:
- Deveria haver mais informações sobre a produção. Principalmente no caso do morango, que é uma fruta mais sensível, com uma casquinha fina, que absorve muita coisa.
A indústria de defensivos rebate o argumento de que há risco à saúde. O agrônomo Guilherme Guimarães, da Associação Nacional de Defesa Vegetal, diz que a segurança alimentar do consumidor é testada pelos órgãos que liberam os produtos. Quanto ao fato de que o Brasil ainda tem agrotóxicos já banidos no exterior, ele diz que isso se deve ao clima e a adversidades.
Ibama diz que aplicou R$ 14,5 milhões em multa em 2013, a maior parte na apreensão de produtos ilegais importados.
Unisinos


O perigo dos agrotóxicos



"Os agrotóxicos afetam a saúde dos consumidores, moradores do entorno de áreas de produção agrícola ou de agrotóxicos, comunidades atingidas por resíduos de pulverização aérea e trabalhadores expostos", escreve Fernando Carneiro, professor da UNB e coordenador de saúde e meio ambiente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva, em artigo publicado pelo jornal O Globo, 24-01-2014.
Eis o artigo.
agronegócio brasileiro vem pressionando a Presidência da República e o Congresso para diminuir o papel do setor de saúde na liberação dos agrotóxicos.

O Brasil é o maior consumidor desses venenos no planeta e a cada dia se torna mais dependente deles. Qual o impacto que essas medidas terão na saúde da
população brasileira?
No Brasil, a cada ano, cerca de 500 mil pessoas são contaminadas, segundo o Sistema Único de Saúde (SUS) e estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Os brasileiros estão consumindo alimentos com resíduos de agrotóxicos acima do limite permitido e ingerindo substâncias tóxicas não autorizadas.
Em outubro, a Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa) revelou que 36% das amostras analisadas de frutas, verduras, legumes e cereais estavam impróprias para o consumo humano ou traziam substâncias proibidas no Brasil, tendência crescente nos últimos anos.
Os agrotóxicos afetam a saúde dos consumidores, moradores do entorno de áreas de produção agrícola ou de agrotóxicos, comunidades atingidas por resíduos de pulverização aérea e trabalhadores expostos.
Mesmo frente a esse quadro, mais dramática é a ofensiva do agronegócio e sua bancada ruralista para aprofundar a desregulamentação do processo de registro no país.
Qualquer agrotóxico, para ser registrado, precisa ser analisado por equipes técnicas dos ministérios da Agricultura,Saúde e Meio Ambiente. Inspirados na CTNBIO, instância criada para avaliar os transgênicos, que até hoje autorizou 100% dos pedidos de liberação a ela submetidos, os ruralistas querem a criação da CTNAGRO, na qual o olhar da saúde e meio ambiente deixaria de ser determinantes para a decisão.
Quem ganha e quem perde com essa medida? Não há dúvida que entre os beneficiários diretos está o grande agronegócio, que tem na sua essência a monocultura para exportação. Esse tipo de produção não pode viver sem o veneno porque se baseia no domínio de uma só espécie vegetal, como a soja. Por isso, a cada dia, surgem novas superpragas, que, associadas aos transgênicos, têm exigido a liberação de agrotóxicos até então não autorizados para o Brasil.
O mais recente caso foi a autorização emergencial do benzoato de amamectina usado para combater a lagarta Helicoverpa, que está dizimando as lavouras de soja de norte a sul do país. A lei que garantiu a liberação desse veneno tramitou e foi aprovada em um mês pelo Congresso e pela Presidência da República.
A pergunta que não quer calar é: no momento em que a população brasileira espera um Estado que garanta o direito constitucional à saúde e ao ambiente, por que estamos vendo o contrário?
Na maioria dos estados brasileiros os agrotóxicos não pagam impostos. O Estado brasileiro tem sido forte para liberalizar o uso de agrotóxicos, mas fraco para monitorar e controlar seus danos à saúde e ao ambiente. Enquanto isso, todos nós estamos pagando para ser contaminados...

“Na Amazônia, o que ocorreu e continua ocorrendo é um processo de colonização”.

Entrevista especial com Viviane Vidal da Silva

“Os responsáveis pelos lotes são originários de vários estados do Brasil. No entanto, foi do estado do Paraná que a maior parte dessas pessoas veio, fazendo da região Sul do país a de maior migração para o assentamento [de Matupi]”, afirma a pesquisadora.
Foto: essetalmeioambiente.com
“É preciso entender o papel da política agrária que acontece no nosso país, pois na Amazônia o que ocorreu e continua ocorrendo é um processo de colonização, por meio de umareforma agrária conservadora e como forma de desviar a reforma agrária do centro-sul do país, onde realmente existe demanda por esta questão”, afirma a bióloga Viviane Vidal da Silva. Ela obteve doutorado em Ciências Biológicas, área de concentração em Ecologia Aplicada, com pesquisa sobre o impacto das atividades produtivas do assentamento agrário deMatupi, estado do Amazonas, na paisagem natural daquela região.
De acordo com a pesquisa realizada pela bióloga, o assentamento é o principal responsável pelo desmatamento na região, já que os lotes não observariam os limites impostos pela legislação no que se refere às áreas de preservação florestal em função da substituição da atividade agrícola pela pecuária.
Em entrevista concedida por e-mail à IHU On-Line, Viviane Vidal da Silva aponta uma série de fatores como contribuintes para esta situação, entre eles a localização do assentamento em uma área de expansão da fronteira agrícola, a rotatividade na ocupação dos lotes, as deficiências em recursos humanos e materiais do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – INCRA para fiscalizar o cumprimento da legislação, a própria falta de infraestrutura no assentamento, a inexistência de estradas para o escoamento da produção dos agricultores e a ausência de assistência técnica para o pequeno produtor.
“Como a pecuária é uma atividade que demanda muitas áreas, a cada período novas áreas de florestas estão dando lugar às pastagens. Tal situação se torna ainda mais crítica por esta atividade ser baseada em um regime extensivo de produção, sem que haja recuperação dos solos, com a desvalorização dos produtos da floresta e sem a adequada assistência técnica. Além disso, existe o baixo preço das terras no estado do Amazonas e a especulação imobiliária, o que acaba atraindo mais pessoas para esta região”, enfatiza a pesquisadora. “Isso leva a uma exploração intensiva dos recursos naturais, desmatamento, empobrecimento da população local e esvaziamento do campo, e com isso não é atingido o objetivo da reforma agrária de promover a justiça social e o desenvolvimento equilibrado com qualidade ambiental da região”, complementa.
Viviane Vidal da Silva é graduada em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro - UNIRIO, possui mestrado em Ciência Ambiental pela Universidade Federal Fluminense e obteve doutorado em Ciências Biológicas pela Universidade de São Paulo - USP. Atualmente, é professora da Universidade Federal do Amazonas, no Instituto de Educação, Agricultura e Ambiente, desenvolvendo as atividades docentes no município de Humaitá.
Viviane Vidal da Silva / Foto: Arquivo Pessoal
Confira a entrevista.
IHU On-Line - Quais são as principais atividades produtivas na região em que está inserido o distrito de Matupi, no Amazonas?
Viviane Vidal da Silva - O distrito de Santo Antonio doMatupi pertence ao município de Manicoré, sub-região doVale do Rio Madeira, no sul do estado do Amazonas. Dessa forma está inserido numa área de expansão da fronteira agrícola do estado, onde se verificam diversos processos relativos ao uso da terra, conflitos fundiários e migrações internas. A principal atividade produtiva, tanto na vila do distrito de Santo Antonio do Matupi quanto no projeto de assentamento Matupi, onde desenvolvi minha pesquisa de doutorado, é a pecuária. Esta atividade tem gerado demanda por mais terras para formação de pastagens, haja vista o aumento do número de rebanhos bovinos no Amazonas e em especial no município deManicoré, que ocupa o quarto lugar em número de cabeças de gado no estado, segundo o Censo Agropecuário do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2006. Além disso, também existe a extração de madeira.
IHU On-Line - Estas atividades impactam o meio ambiente de que forma?
Viviane Vidal da Silva - Como já é conhecido, existem diversas formas de impacto da pecuária no meio ambiente, como a compactação do solo, a perda da biodiversidade e a redução de áreas de florestas para a formação de pastagens. Na minha pesquisa de doutorado, verifiquei apenas o impacto da pecuária na redução das áreas de florestas dentro de cada lote do projeto de assentamento Matupi, que foi a minha área de estudo. Como a pecuária é uma atividade que demanda muitas áreas, a cada período novas áreas de florestas estão dando lugar às pastagens.
Tal situação se torna ainda mais crítica por esta atividade ser baseada em um regime extensivo de produção, sem que haja recuperação dos solos, com a desvalorização dos produtos da floresta e sem a adequada assistência técnica. Além disso, existe o baixo preço das terras no estado do Amazonas e a especulação imobiliária, o que acaba atraindo mais pessoas para esta região.
IHU On-Line – Sabe-se que a maior parte dos primeiros beneficiados com os lotes do assentamento vendeu informalmente a terra. Qual a origem dos migrantes que compraram estes lotes e quais são as atividades a que se dedicam hoje?
Viviane Vidal da Silva - Os responsáveis [atuais] pelos lotes são originários de vários estados do Brasil. No entanto foi do estado do Paraná que a maior parte dessas pessoas veio, fazendo da região Sul do país a de maior migração para o assentamento, já que também há beneficiários dos estados de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul.
Apesar da maioria dos assentados ser oriunda do estado do Paraná, 95% destes já se encontravam na regiãoAmazônica, principalmente no estado de Rondônia. Eles chegaram ao assentamento por meio da Rodovia Transamazônica - BR 230, à procura de mais terra. Ainda hoje se verifica esta migração, com colonos atraídos, principalmente, pelo baixo preço das terras no estado do Amazonas. Com a sobra do capital, é possível investir na formação de pastagens e rebanho, sem a necessidade de se valer do crédito rural, uma vez que algumas famílias não possuem as características necessárias à obtenção do crédito.
Assim, esses migrantes dedicam-se à atividade da pecuária extensiva, com forma de produção baseada em um modelo importado de outra região do país, onde não existe extração de produtos florestais, tradicionais na região Norte, o que acaba comprometendo a sustentabilidade dos recursos naturais no assentamento. O preparo da terra para a produção ainda é feito na forma de queima, derrubada e roçada, que acaba por esgotar o solo e, assim, é preciso a abertura de novas áreas para pastagens. A localização do projeto de assentamento Matupi em uma área de fronteira agrícola, onde existe mercado para este tipo de produção, só vem contribuir para o aumento desta atividade e, consequentemente, para uma degradação ambiental. Cabe destacar que os beneficiários do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária - INCRA, assentados na época de implantação do assentamento, em 1995, receberam créditos rurais para produções como café e cupuaçu, mas, pela falta de infraestrutura e de acesso a mercados consumidores, estas produções se tornaram inviáveis.
IHU On-Line - Diante deste cenário, quais são os impactos das atividades produtivas sobre a paisagem de Matupi, conforme os termos da sua pesquisa de doutorado?
Viviane Vidal da Silva - Eu fiz uma análise espacial, usando dados digitais provenientes do banco de dados do[Programa de Cálculo do Desflorestamento da Amazônia -] PRODES/INPE, no período de 2000/2010, e verifiquei que o uso da terra nos lotes de todo o assentamento tem aumentado, com a conversão de áreas de floresta em uso da terra, principalmente, para a formação de pastagens. E isso acontece até nos lotes da vicinal Santa Luzia, que oficialmente nunca recebeu beneficiários do INCRA. Isso leva a uma exploração intensiva dos recursos naturais, desmatamento, empobrecimento da população local e esvaziamento do campo, e com isso não é atingido o objetivo da reforma agrária de promover a justiça social e o desenvolvimento equilibrado com qualidade ambiental da região.

“Os pequenos produtores têm uma importante contribuição para o desmatamento da região”


IHU On-Line – Comente, por favor, a conclusão da pesquisa de que o assentamento é o principal responsável pelo desmatamento na região.
Viviane Vidal da Silva - As análises dos dados digitais para o período de 2000/2010mostram que, na maior parte dos lotes, se utiliza mais que o permitido pelo Código Florestal para o bioma amazônico. Dessa forma os pequenos produtores têm uma importante contribuição para o desmatamento da região. No entanto, a integração desses dados espaciais com dados primários das entrevistas que realizei mostra que os fatores sociais e econômicos e as instituições contribuem para esta situação. Por exemplo, a própria localização do assentamento numa área de fronteira, a rotatividade nos lotes, sem que haja tempo para que o INCRA possa resolver esta situação — neste órgão há poucos funcionários para atender uma grande demanda —, a falta de infraestrutura no assentamento, a falta de estradas para o escoamento da produção e a falta de assistência técnica para o pequeno produtor, todos esses fatores contribuem para esta situação. Muitas das pessoas que estão exercendo atividade produtiva nos lotes não são beneficiárias doINCRA. Elas já chegaram à região com capital para a compra de lotes, mesmo que informalmente, e com o seu próprio gado.
IHU On-Line - Em que locais a floresta permanece preservada?
Viviane Vidal da Silva - Em muitos lotes é possível verificar, pelos dados digitais espaciais, que não existem mais áreas de florestas, porque, além da pecuária, existe também a extração de madeira. Mas, nas áreas onde o acesso ainda é difícil, as florestas estão preservadas.
IHU On-Line - Gostaria de acrescentar algo?
Viviane Vidal da Silva – Gostaria de acrescentar que, embora os assentamentos rurais contribuam para odesmatamento na região amazônica, é preciso que se analise esta questão a partir de uma abordagem que integre os diferentes fatores envolvidos neste processo e que esta análise seja em uma escala local. A Amazônia possui uma grande dimensão geográfica e diferentes processos de ocupação e desenvolvimento que resultam em um contexto diferenciado de problemas sociais, econômicos e ecológicos. Entendendo a integração desses fatores é possível compreender a real contribuição dos assentamentos, para que políticas públicas mais aplicadas possam reverter este quadro. Além disso, é preciso também entender o papel da política agrária que acontece no nosso país, pois na Amazônia o que ocorreu e continua ocorrendo é um processo de colonização, por meio de uma reforma agrária conservadora e como forma de desviar a reforma agrária do centro-sul do país, onde realmente existe demanda por esta questão.
(Por Luciano Gallas)

Fifa fica em 3° lugar como pior empresa do mundo, mas ganha o troféu entre os brasileiros

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No último dia 22 de janeiro, a eleição organizada pelo Public Eye Awards, mais conhecido como a organização que apresenta o hall das piores empresas do mundo, encerrou o canal de votação para escolha do público.
 A reportagem é do portal CSP-Conlutas - Central Sindical e Popular, 27-01-2014.
Articulação Nacional dos Comitês Populares da Copa (ANCOP) e o Jubileu Sul, com os quais a CSP-Conlutas se integrou na iniciativa, promoveram forte campanha para impulsionar os votos a fim de eleger a FIFA como a pior empresa do mundo. A FIFA, com 54333 votos, ficou em terceiro lugar, e teve maior participação de brasileiros na votação.
 
A vencedora pela escolha mundial do público foi a Gazprom, acusada de violar regulamentações federais de segurança e ambiental no Ártico. Sua principal atividade na região é perfurar o mar ártico para extração de petróleo.
 
ANCOP, o Jubileu Sul, a CSP-Conlutas e outras organizações promoveram a campanha digital, que circulou nas redes sociais e denunciou características machistas, homofóbicas e as violações aos direitos da pessoa cometidas por esta instituição. Essas organizações denunciaram a Fifa como  responsável por violentas remoções e despejos do povo pobre que mora nas periferias no entorno dos estádios, assim como suas  exigências e influência sobre o estado brasileiro que cada vez mais vem impondo medidas de repressão e violência para “garantir a ordem” no período da Copa do Mundo.
 
CSP-Conlutas somou-se a esse trabalho, que obteve um expressivo alcance de público nas redes sociais e no site, com mais de 28 mil visualizações das publicações da campanha.
 
“Apesar de a Fifa não ter ganho em primeiro lugar, podemos considerar como muito importante o fato de ter sido eleita como a pior se considerarmos só o votos dos brasileiros. Demonstra-se que, como expresso nas manifestações de junho do ano passado e já em diversas manifestações ocorridas esse ano, essa “instituição” sofre repúdio em nosso país que carece de melhorias profundas nas áreas social, como transporte, saúde, educação e moradia”, afirma o membro da Secretaria Executiva da CSP-Conlutas, Atnágoras Lopes, responsável pela campanha na Central.
 
Mesmo sem alcançar o primeiro lugar, Atnágoras avalia a importância da iniciativa. “Parte de nosso objetivo foi alcançado nessa campanha que buscou denunciar os desmandos e a ganância dessa entidade que tem as manchas da corrupção e de atitudes que ferem os direitos humanos”.
 
Confira a colocação:
 Gazprom 95279
 Syngente, Bayer, BASF 59837
3° Fifa 54333 ( desses 33642 são do Brasil)

do Unisinos

Trote solidário e sustentável incentiva a doação de papel para reciclagem


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O calouro que fizer o maior número de doações receberá um certificado
Foto: Asamblea Carabanchel
Receber doações de papéis sem condições de reutilização e que tenham sido usados pelos calouros durante o processo de estudo para o vestibular. Esse é o objetivo da Universidade Federal do Pará (UFPA) com a terceira edição do Trote Solidário e Sustentável, ação que destinará todo o material arrecadado para os catadores - que poderão comercializá-lo e transformá-lo em renda.
O período de doações segue até 28 de fevereiro, dentro da programação da semana do calouro, das 10h às 12h, no campus básico da instituição. Nesta edição, o caminhão da coleta seletiva ficará ao lado do Centro de Eventos Bendito Nunes e cerca de 20 voluntários do curso de engenharia sanitária da UFPA trabalham no recebimento e na pesagem dos papéis.
A organização do trote vai aproveitar a oportunidade para realizar uma pesquisa com os novos alunos da universidade por meio de um formulário com perguntas sobre sustentabilidade. O objetivo é descobrir qual a visão dos calouros diante de ações educativas como essa e saber se eles se interessam em colaborar com os trabalhos da Coordenadoria de Meio Ambiente no decorrer da graduação.
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UFPA pretende implantar ações de sustentabilidade com os estudantes durante 2014
Foto: Divulgação
Há, ainda, a tentativa de servir de exemplo para que escolas, cursinhos, empresas públicas e privadas e até mesmo a prefeitura se conscientizem sobre o incentivo à coleta seletiva
Além disso, o calouro que fizer o maior número de doações receberá um certificado. Outras doações também poderão ser feitas após esse período, diretamente no Depósito da Coleta Seletiva ou nos Locais de Entrega Voluntária (LEV), que estarão espalhados pela cidade universitária.
Em 2013, o trote arrecadou mais de uma tonelada de papel. Para este ano, os organizadores anteciparam a divulgação com a expectativa de superar a marca anterior, tentando conscientizar a comunidade acadêmica e a população em geral sobre os princípios de solidariedade, cidadania e consciência socioambiental.
Há, ainda, a tentativa de servir de exemplo para que escolas, cursinhos, empresas públicas e privadas e até mesmo a prefeitura se conscientizem sobre o incentivo à coleta seletiva. Outro fator que fortalece a realização do trote é a Lei nº 12.305, de 2 de agosto de 2010, que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos, na qual ficou estabelecido o fim dos lixões até agosto de 2014.
Destino adequado
Com a coleta seletiva solidária instituída e com esta ação junto aos calouros, a UFPA defende a missão de colaborar com a redução de emissão de resíduos aos lixões e com a inclusão socioeconômica desses trabalhadores. A Coordenadoria explica que a ideia foi pensada para dar um destino adequado a toneladas de papéis que não serviriam mais para os novos universitários e seriam despejados no lixo comum.
De acordo com a técnica da Coordenadoria de Meio Ambiente, Lúcia Almeida, a temática da ação envolve especialmente os calouros da UFPA, mas todos podem contribuir com doações. “O nosso trabalho é amplo e a estratégia é chamar atenção principalmente dos novos alunos para questões ambientais e de responsabilidade social. É importante que eles tenham a chance de exercer o papel de cidadãos nesses primeiros momentos com a instituição. Além disso, a UFPA presta um grande serviço com as cooperativas e com o meio ambiente”, explicou ao jornal O Liberal.
Mais informações: (91) 3201-7370.
E-mail: coletaseletiva@ufpa.br ou ambiental@ufpa.br

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Gato: o animal ideal do século XXI

Comportamento animal

Sagrado no Egito Antigo e perseguido na Idade Média, o gato deve assumir o posto de bicho mais popular do mundo neste século. A chave para compreender suas múltiplas faces é a ciência, afirma o biólogo britânico John Bradshaw

Rita Loiola
Gato com novelo
No livro 'Cat Sense', o biólogo John Bradshaw revela o significado do comportamento felino e mostra como foi sua evolução ao longo da história (Thinkstock)
"Gatos e cachorros apelam a diferentes partes da natureza humana. Os gatos oferecem um vislumbre da vida selvagem, enquanto os cachorros oferecem lealdade e submissão" John Bradshaw, biólogo
Em 13 de junho de 1233, o papa Gregório IX definiu o que era um gato. No documento oficial Vox in Rama, o gato preto foi descrito como "encarnação do demônio". Antes disso, no Egito Antigo, o animal tinha status de sagrado. Em um passado ainda mais longínquo, o gato foi domesticado com uma única função, caçar ratos – e esse era o motivo de mantê-lo em casa até poucas décadas atrás. Como um bicho com tantas "encarnações" na história transformou-se naquele que deve se tornar o mais popular do século XXI? "Gatos intrigam a humanidade desde que passaram a viver entre nós. A chave para compreendê-los está na ciência", afirma o biólogo John Bradshaw, pesquisador da Universidade de Bristol, na Inglaterra.

Em seu livro Cat Sense (Sentido do gato), lançado em setembro de 2013 nos Estados Unidos e inédito no Brasil, Bradshaw usa as últimas pesquisas científicas para explicar o comportamento dos bichanos e defender a tese de que eles são os companheiros ideais para o homem da atualidade.

Ainda existem mais cachorros do que gatos no mundo: são 335 e 260 milhões, respectivamente, segundo a consultoria de mercado internacional Euromonitor, em uma estatística de 53 países. Mas a população felina cresce mais do que a canina e, em nações como Estados Unidos, França e Alemanha, já é maioria. No Brasil, de acordo com a Associação Brasileira de Indústria de Produtos para Animais (Abinpet), vivem 37 milhões de cachorros e 21 milhões de gatos. Na proporção em que aumentam nos últimos anos – duas vezes mais do que os cães – os bichanos devem assumir a dianteira do ranking daqui a dez anos, segundo a Abinpet.
Popular, mas selvagem – Cada vez mais numerosos como bichos de estimação, os gatos permanecem essencialmente selvagens. Estão dentro de nossas casas, mas continuam com as quatro patas fincadas nas florestas onde seu ancestral, o Felix silvestris, caçava – e ainda caça – pequenos animais, sozinho e livremente. ​ 
O motivo pelo qual gatos não são leais e obedientes como os cachorros é evolutivo. Domesticados há cerca de 11 000 anos, na Europa, os cães foram sendo moldados pelos homem. Aqueles que exibiam características mais úteis ao convívio humano — capacidade de caçar, pastorear rebanhos, defender territórios, fazer companhia — foram acolhidos, passaram sua herança genética adiante e são os ancestrais dos que conhecemos atualmente. Já os gatos começaram a morar dentro de casa há cerca de 4 000 anos, no Egito – embora convivam com o homem há aproximadamente 10 000 anos.
Bradshaw diferencia gatos totalmente domesticados – aqueles que têm a reprodução controlada pelos humanos, como os com pedigree, minoritários – dos de rua, que se reproduzem sozinhos e têm o comportamento semelhante aos selvagens. Nas próximas décadas, com a intervenção humana na criação de novas raças adaptadas à vida doméstica contemporânea, os gatos provavelmente abandonarão algumas de seus traços selvagens. "Os gatos foram domesticados pela única razão de controlar o número de ratos. Interessava manter o seu comportamento selvagem", disse Bradshaw ao site de VEJA. "Hoje eles são principalmente um animal de estimação, e acredito que ainda neste século seu processo de domesticação será completado."  

A convivência entre gatos e humanos na história

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Um bom caçador


Há 10 000 anos, quando surgiu a agricultura, os humanos que começaram a armazenar grãos, que atraíram ratos. Predadores naturais dos roedores, os gatos selvagens se aproximaram dos acampamentos e foram a melhor forma de controlar a praga. A primeira evidência da relação mais próxima entre homens e gatos veio em 2001, quando uma equipe de arqueólogos do Museu de História Natural de Paris descobriu no Chipre um esqueleto de gato (semelhante ao gato selvagem africano, à dir.), enterrado há 9 500 anos em um túmulo perto ao de um humano. O enterro em locais próximos sugere que a relação entre os dois era estreita. Ainda levaria milênios, no entanto, para os gatos serem considerados animais de estimação.

É desejo recente querer que eles sejam apenas companhia e não matem os animais que entram pela janela. Até os anos 1980, muitos gatos domésticos ainda precisavam caçar para manter a dieta balanceada. Somente nessa época pesquisas científicas revelaram que gatos têm imperativos nutricionais diferentes dos cães – enquanto os cachorros são onívoros (consomem animais e vegetais), os felinos são exclusivamente carnívoros. Hoje, a indústria oferece alimentos que os deixam realmente satisfeitos —  um passo essencial para que o impulso de caçar, que supre com a carne fresca de passarinhos ou roedores necessidades alimentares, possa ser controlado.
Paixão por felinos – A explicação para o amor crescente dos homens pelos gatos pode estar em uma característica inerente à espécie. "Eles despertam em nosso cérebro um instinto de cuidado. Os traços mais óbvios que provocam esse fenômeno são o rosto redondo, a testa larga e os grandes olhos, que nos recordam um bebê humano", afirma Bradshaw.

Talvez seja por isso que, historicamente, gatos estão relacionados a mulheres e homens, a cães. Pinturas egípcias feitas há 3 300 anos mostram gatos sentados embaixo da cadeira de suas donas, enquanto cachorros estão sob o assento do homem da casa. Em Roma, a preferência era a mesma e, por séculos, os animais foram relacionados a divindades como as deusas Bastet, no Egito, Artemis, na Grécia e Diana, em Roma. Na Idade Média, especialmente depois da bula papal de 1233, a associação com gatos deixou de ser positiva: foram muitas as donas de gatos queimadas como bruxas.
Essa adoração e perseguição ao longo dos séculos moldaram o comportamento e a biologia do animal, até chegar aos bichanos que hoje se enroscam nas pernas de seu dono quando estão felizes. "Os gatos são mais bem ajustados à vida moderna do que os cães. Eles não precisam ser levados para passear, podem ser deixados sozinhos por longos períodos e precisam de menos espaço", diz o biólogo.

Entenda o comportamento dos gatos

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Pedir carinho


A maioria dos gatos gosta de receber carinho na cabeça porque essa é a região em que frequentemente recebe as lambidas de amigos de sua espécie – esse é um ritual de amizade e confiança entre eles. Nos humanos, o ritual é substituído pelo cafuné. Pedir um chamego é uma maneira de estreitar a relação com o dono.
Mitos derrubados – Com o histórico de três décadas de pesquisas sobre comportamento animal (é também autor de Cão Senso, publicado em 2012 pela editora Record) e o apoio de cientistas que estudam biologia e DNA felino, Bradshaw aborda lugares comuns como o de que cães e gatos se detestam ou de que o gato não gosta do dono, mas da casa. "Gatos e cães eram inimigos naturais quando vagavam pelas ruas. Na condição de animais de estimação, podem ser amigos", afirma. A relação harmoniosa acontece se os animais se conhecerem ainda filhotes: o gato com até oito meses de vida e o cachorro com até três meses.
A ciência também confirmou que os bichanos se vinculam primeiro aos lugares e depois às pessoas. Esse é um legado do animal selvagem do qual descendem, uma espécie fortemente territorialista. "Um gato precisa saber que está em um lugar seguro antes de poder expressar afeição por seu dono, mas isso não significa que ele não goste do proprietário. Sabemos disso porque eles se comportam com seus donos exatamente como com outros gatos dos quais gostam – cumprimentam levantando seus rabos e esfregam suas bochechas e costas um no outro."

Para o biólogo, a palavra certa para descrever a emoção que o gato experimenta em relação a seu dono é "amor". As mesmas alterações hormonais que indicam que humanos sentem emoções se manifestam em bichos. "O senso comum diz que, se um animal que tem a estrutura básica cerebral e o sistema hormonal igual ao nosso parece amedrontado, ele deve estar experimentando algo muito parecido com medo – provavelmente não o mesmo medo que nós sentimos, mas medo de qualquer forma", escreve em seu livro. Assim, Bradshaw se posiciona nos círculos científicos que afirmam que animais experimentam sentimentos como amor, medo, tristeza, alegria ou prazer.

"Houve algo semelhante a uma revolução na ciência do bem-estar animal, que admite que todos os mamíferos, provavelmente todos os vertebrados, têm vidas emocionais complexas. Não só podemos usar esse conhecimento para evitar sofrimento, mas também para assegurar que todos os bichos, de estimação ou de laboratório, vivam mais felizes", afirma.
O gato do futuro – Nos próximos anos, os humanos devem conviver com gatos mais sociáveis, menos ansiosos e mais carinhosos. Eles, provavelmente, serão mais caseiros do que os gatos de hoje, pois cada vez menos terão a necessidade de caçar.
A ciência que estuda o comportamento animal fará do gato um animal melhor adaptado à sociedade contemporânea com a ajuda de uma técnica que, até hoje, é dificilmente adaptada aos gatos: o adestramento, tema do próximo livro de Bradshaw. Ele pretende ensinar, por exemplo, como persuadir um gato a ser amigo de outro ou fazer um animal arisco aceitar pessoas que não conhece.

Para o biólogo, apesar de tudo, o gato do futuro não será uma criatura tão dócil e mansa como o cão. "Gatos e cachorros apelam a diferentes partes da natureza humana. Os gatos oferecem um vislumbre da vida selvagem, enquanto os cachorros oferecem lealdade e submissão", afirma.