Bruno Deiro - O Estado de S.Paulo
O engenheiro florestal Arnaldo Carlos Müller tinha pouco mais de quatro anos de formado quando recebeu, em 1975, o convite para chefiar as ações de meio ambiente na parte brasileira de Itaipu. Em um mês e com equipe reduzida, elaborou um plano básico para compensar os impactos do enchimento do reservatório e nos 15 anos seguintes teve de lidar com a instabilidade política e econômica da empresa para pôr em prática os projetos de atenuação dos impactos - a questão ambiental, considerada supérflua na visão progressista do governo militar da época, foi uma das menos privilegiadas no período de construção da usina.
Que espaço havia para a questão ambiental nos primeiros anos de Itaipu?
Eu trabalhava com meio ambiente no governo em Brasília, em 1975, quando fui chamado para ser assistente de diretoria em Itaipu. Tinha menos de cinco anos de formado e, em alguns aspectos, era um trabalho para inglês ver, como se diz, em função da pressão externa provocada pela Conferência de Estocolmo (1972) e a participação dos financiadores internacionais. Naquele tempo nem se falava em meio ambiente no Brasil, não havia preocupação. Falar em proteger o verde era uma espécie de poesia para os militares. Nosso presidente da época (general Ernesto Geisel) não era simpático à questão, então a preocupação maior era com o reservatório em si e com o processo de desapropriação.