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Estudo demonstra que supermercados cobram mais do que deveriam por produtos orgânicos

          
Os alimentos orgânicos são cada vez mais encontrados nos supermercados. Apresentam características de nichos de mercado e atendem a um segmento seleto de consumidores que têm disposição de pagar um preço bem mais alto, em média com 200% de aumento em relação aos mesmos produtos provindos da agricultura convencional. A compra de produtos como o tomate, a cebola e a batata, em alguns casos, pode até sair com mais de 600% de aumento.

A reportagem é de Isabel Gardenal, publicada pelo Jornal da Unicamp, 06-05-2014.

Um estudo de mestrado do administrador de empresas Edimar Paulo Santos, desenvolvido na Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri) sob a orientação da docente Maria Ângela Fagnani, comprovou isso em análise feita em dez supermercados das cidades que integram o Polo Bandeirantes, um importante circuito de comercialização de produtos entre São Paulo e Campinas.

Santos observou que o canal supermercado do jeito que está hoje acaba prestando um desserviço à causa do movimento orgânico, que poderia ser muito mais bem-aceita pela população e que, em razão do preço, acaba afastando-a de uma iniciativa que certamente seria benéfica.

O produto orgânico se diferencia do produto da agricultura convencional, que emprega altas concentrações de inseticidas, fungicidas, herbicidas. Apesar do alto preço dos orgânicos, sua demanda continua crescendo, embora confinada a um pequeno estrato de maior poder aquisitivo, altamente valorizado pelos supermercados.

Além do produto convencional e do orgânico, existe ainda o hidropônico (que cresce sem solo), que também tem um apelo de não uso de agrotóxicos, pois, como ele está em ambiente protegido, evita-se a sua exposição a insetos. Outra categoria ainda é a higienizada – dá-se um banho e diminui-se a química da casca do produto.

Na opinião do mestrando, a escolha dos orgânicos é, em grande medida, pautada em modismo. “E o discurso ambiental é evocado como estratégia para induzir o consumo”, nota Edimar, embora exista, de fato, uma preocupação dos produtores em preservar o local onde os alimentos são cultivados, as nascentes de água, as áreas que são produto de reflorestamento e a não produção de queimadas.

As técnicas usadas para obter o produto orgânico, menciona, incluem compostagem, adubação verde, manejo orgânico do solo e da diversidade de culturas, que fornecem alta qualidade biológica aos alimentos.
Em face dessa qualidade, o trabalho de Edimar procurou avaliar como o produto orgânico estava se comportando nos canais longos de comercialização, no caso os supermercados, sendo que dificilmente ele chega à classe média e quem dirá à baixa.

Ele explica que as redes longas envolvem uma cadeia com consumidor e grandes varejistas que vão trabalhar com grandes propriedades agrícolas. Há muitas pessoas incluídas nesse processo, como o agricultor e uma rede internacional que obtém esses produtos diretamente dos trabalhadores e os levam aos supermercados.

O mestrando aposta que as redes investem pesado em estratégias de comercialização – o marketing verde –, atraindo uma classe privilegiada que tem disposição de pagar mais caro por produtos 100% limpos e livres de agrotóxicos.

O ideal, acredita ele, seria que todas as pessoas tivessem acesso a um alimento mais saboroso, mais saudável, mais ético, que respeitasse o meio ambiente e as pessoas. E o produto orgânico tem justamente essa proposta.

Possui uma legislação bem-definida e clara sobre como ele deve ser plantado, levando-se em conta os princípios da produção, ou seja, não pode ser monocultura, tem que ter rotação de cultura, tem que ser um produto cadastrado no Ministério da Agricultura, tem que ter certificação, entre outras exigências.

A primeira etapa de um produto orgânico, descreve o autor do estudo, inclui o cuidado com a terra, que vai ser trabalhada sem aditivo químico, a fim de fazer fertilização. Do contrário, acontece a contaminação do solo e do lençol freático. Quanto à sua produção, ela não é tão alta nos primeiros quatro a cinco anos de cultivo, até o solo recuperar a sua fertilidade.

Os orgânicos começaram a ganhar força a partir da década de 1980. Mas, em um dado momento da história, o governo passou a privilegiar a agricultura convencional, por ser mais acessível, através do programa chamado Revolução Verde. “Ocorre que os produtos orgânicos possuem mais ocupação de mão de obra familiar trabalhando com a terra. Deste modo, as pessoas envolvidas nessa atividade se mantêm mais na zona rural e quebram um pouco do êxodo rural”, ressalta.

Estudos
Edimar sondou a história do produto orgânico, como ele foi se comportando ao longo do tempo. Depois viu qual era a sua filosofia, qual era a sua causa e por que levantar essa bandeira. Simultaneamente, buscou ver onde esses produtos eram divulgados.

De acordo com o pesquisador, ele escolheu os supermercados e passou a avaliar como se comporta o produto orgânico nas grandes redes varejistas. Na literatura, descobriu que os orgânicos já eram empregados livres de agrotóxico pelos povos indígenas. Todavia, perdeu força com a Revolução Verde, um programa para ampliar a produção agrícola no mundo mediante o melhoramento genético de sementes, uso intensivo de insumos industriais, mecanização etc.

Tal revolução priorizou o tipo de agricultura de monocultura e as grandes plantações, entre as décadas de 1960 e de 1970. A ideia era acabar com a fome do planeta, por meio de pacotes tecnológicos criados pelo governo estimulando determinados tipos de agricultura. Na década de 1970, isso não trouxe os benefícios esperados. “As pessoas ainda tinham fome e o problema da alimentação não tinha sido resolvido”, repara.
Com os impactos pela contaminação de trabalhadores e de pessoas pelos venenos amplamente difundidos pela Revolução Verde, veio à tona novamente a agricultura orgânica, que teve como marcos principais os eventos da Eco 92 e da Rio +20.

Os orgânicos cresceram mais, sobretudo nas classes A e B, pela apreciação do sabor, pela qualidade de vida e pelo tipo de alimento que estava sendo levado. O tempo passou e hoje 80% da produção nacional é da agricultura familiar e, desses 80%, grande parte produz organicamente. “Creio que haja muito mais produção orgânica no país do que aquilo que é divulgado”, imagina.

Expectativa

Olhando o produto orgânico e o tradicional disponíveis no mercado, Edimar percebeu que o tratamento dado a eles não era o mesmo. No caso dos orgânicos, havia sempre um funcionário do supermercado zelando da disposição deste produto nas prateleiras, cuidando para receber maior luminosidade, placas de localização, de 100% orgânico e de incentivo ao consumo. Uma delas dizia: “você está levando vida para a sua casa.”

Edimar verifica que isso chama a atenção do consumidor pois, em oposição, ninguém quer levar a morte para a casa. Além disso, a palavra “sustentabilidade” aparecia constantemente na área destinada aos orgânicos. Um cartaz propagava as “dez razões para se consumir os produtos orgânicos”. Havia um grande apelo de marketing em todos os estabelecimentos visitados.

O discurso ambiental era sempre usado para induzir o consumo dos orgânicos, e muitas pesquisas tratam do seu perfil em todo o mundo, destacando a saúde como um dos principais fatores que levam o consumidor urbano a buscar esses alimentos.

O próximo passo de Edimar é resgatar no doutorado o marketing que vem do modelo capitalista. “Será que ele serve para essa pegada ecológica, ambiental e responde às expectativas da divulgação?”, questiona.

A seu ver, faltam políticas públicas para que o produto orgânico chegue à mesa do consumidor indistintamente da classe social. Outra coisa a ser considerada é o fator dinheiro. Para quem ele fica?

Se é repassado ao produtor, ótimo, porque vai trazer mais interessados para o negócio, em fazer uma agricultura mais sensível com a ecologia. Mas, quando não tem esse repasse? Acaba havendo um desestímulo e usa-se negativamente um canal que poderia ser bem utilizado, se respeitasse o produtor.

Nesse trâmite ainda, quando tem um intermediário que pega o produto do agricultor e o leva diretamente ao supermercado, o agricultor ganha menos ainda. Em alguns casos, recebe o mesmo valor que receberia com um produto convencional, sendo que tem em suas mãos um produto realmente diferenciado.

“Então vimos que o produtor perde bastante no supermercado. Em algumas empresas, existem agricultores que são produtores orgânicos e que deixaram de trabalhar com supermercados por esse motivo, porque perdiam muito”, conta.

O supermercado ganha principalmente com o marketing do verde, do sustentável, que tem uma preocupação com o meio ambiente. Ele acaba atraindo mais pessoas que querem comprar num lugar que tenha essa visão ambiental.

“Meu estudo faz uma crítica sobre como se comporta o produto orgânico nessas grandes redes varejistas e serve para traçar parâmetros para ver se vale a pena divulgar e comercializar os orgânicos no supermercado”, expõe. “Para o consumidor, está claro que na feira livre ele paga menos. E, para o pequeno agricultor, também é melhor levar esse produto para a feira. Ele vai ganhar muito mais”, garante.

fonte: Unisinos
 

Transgênicos e agrotóxicos. Tudo a ver?

Quarta, 07 de maio de 2014

Entrevista especial com Alan Tygel

“Temos um governo com uma cara popular, mas que no fim das contas manteve as velhas estruturas”, avalia o membro da Cooperativa Educação, Informação e Tecnologia para Autogestão – EITA.
“O governo federal vem tentando manter uma política dupla-face de apoiar o agronegócio da maneira tradicional, com financiamentos que chegam a R$ 120-140 bilhões para a monocultura de soja e de milho, as quais já ocupam quase 90% do território agricultável brasileiro, e ao mesmo tempo faz políticas de fortalecimento da agricultura familiar camponesa”, diz Alan Tygel, em entrevista concedida à IHU On-Line pessoalmente, durante o XV Simpósio Internacional IHU “Alimento e Nutrição no contexto dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio”, que está ocorrendo na Unisinos.
 
Alan Tygel atua há três anos na campanha permanente “Contra os agrotóxicos e pela vida”, a partir do Comitê do Rio de Janeiro, e foi um dos assessores na produção dos documentários O Veneno está na mesa 1 e 2, dirigidos por Silvio Tendler. Defensor da Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica – PNAPO, construída pelos movimentos sociais em torno da Articulação Nacional de Agroecologia, ele enfatiza que não é possível tratar de temas como segurança alimentar sem pensar numa proposta ampla de reforma agrária, de autonomia dos agricultores em relação às sementes e ao plantio orgânico, livre da transgenia e do uso de agrotóxicos. “Esse é um debate que nunca podemos fazer em separado. O aumento do uso de agrotóxicos no Brasil está intimamente ligado à liberação dos transgênicos no país no ano 2000 e há um aumento gradativo do número de culturas aprovadas e da área plantada de transgênicos”, assinala. E dispara: “No início dos transgênicos, havia uma falsa propaganda de que eles iriam acabar reduzindo o uso de agrotóxicos e aumentar a produtividade, mas não aconteceu nem uma coisa nem outra”.
 
Alan Tygel trabalha na Cooperativa Educação, Informação e Tecnologia para Autogestão – EITA, que reúne programadores e educadores populares com o objetivo de colocar a informática a serviço dos movimentos sociais e da luta popular.
 
A Cooperativa presta serviço para os movimentos sociais a partir das demandas deles. Entre outros serviços, a cooperativa criou o site da Articulação Nacional de Agroecologia, da Associação Brasileira de Agroecologia, do Fórum Brasileiro de Soberania Alimentar, além de elaborar o sistema de informação Cirandas, que é o Sistema de Informações da Economia Solidária.
 
Tygel é mestre em Engenharia Elétrica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ e doutorando do Programa de Pós-Graduação em Informática da UFRJ, pesquisando na área de metodologias participativas de desenvolvimento de software, tecnologias de informação para movimentos sociais e uso e publicação de dados abertos ligados.
 
Confira a entrevista.
 
IHU On-Line - Qual foi a sua atuação nos dois documentários O veneno está na mesa?
 
Alan Tygel - A história do documentário O veneno está na mesa praticamente se confunde com a própria história da campanha permanente contra os agrotóxicos e pela vida. Ainda em 2010, começaram algumas reuniões de movimentos sociais, universidades, sindicatos e movimentos estudantis para criar uma ferramenta que unificasse a luta contra os agrotóxicos. Essa luta existe desde que existe agrotóxico, mas ela acabava sendo muito dispersa. Porém, a partir de 2008, quando o Brasil se tornou campeão do uso de agrotóxicos no mundo, os movimentos sentiram a necessidade de criar um instrumento que organizasse essa luta de uma forma mais consistente e que pudesse ter resultados mais efetivos.
 
A campanha vem desse movimento que começa em 2010, e foi lançada em 7 de abril de 2011, junto com o Dia Mundial da Saúde. Isso ocorreu ao mesmo tempo que o Silvio Tendler viajou para o Uruguai e conversou com o Eduardo Galeano, que lhe informou que o Brasil é o maior consumidor de agrotóxico do mundo. No mesmo instante Silvio pensou em fazer um filme sobre isso, fez as articulações, procurou os movimentos sociais — o MST principalmente —, fez a proposta e então o filme O veneno está na mesa 1 foi construído em parceria entre a campanha contra os agrotóxicos e o Silvio Tendler.
 
Fizemos a assessoria dizendo quais eram os melhores lugares para ir, os temas interessantes a abordar. O filme foi fundamental para o desenvolvimento que tivemos nos últimos três anos. O Silvio tem uma capacidade de fazer esse diálogo com a sociedade de uma maneira muito superior à que nós temos enquanto movimento.
 
O filme O veneno está na mesa 1 foi exibido pelo Brasil inteiro fora das salas de cinemas. Silvio sempre diz que foi um filme que, pela contabilidade oficial de bilheteria, ninguém assistiu, pois não vendeu nenhum ingresso. Porém, é um filme que foi assistido em escolas, igrejas, assentamentos, acampamentos, ocupações, praças, universidades. Por todo o Brasil, o filme O veneno está na mesa 1 foi carregando o debate da campanha e ajudando a organizar a população em torno desse tema, porque não é um filme apenas para assistir, é um filme para você juntar o povo, debater, etc. O veneno está na mesa, e por que ele está na mesa?

“O filme O veneno está na mesa 1 foi exibido pelo Brasil inteiro fora das salas de cinemas”

IHU On-Line - Qual a diferença de O veneno está na mesa 2 em relação ao primeiro filme?
Alan Tygel – Ele tem uma estrutura semelhante, que é a de fazermos a denúncia, mostrar casos emblemáticos dos agrotóxicos, dar uma ideia de como esse modelo está impactando a saúde dos brasileiros e brasileiras. No filme 2 — apesar do baixo orçamento — nós tentamos dar esse foco para a agroecologia. Então, visitamos experiências pelo Brasil inteiro; o Silvio e a equipe dele viajaram muito para conhecer de perto o povo que está fazendo a agroecologia acontecer no dia a dia.
 
Tem outro aspecto interessante em relação ao primeiro filme: nestes três anos de campanha, nós conseguimos alguns apoios de peso em relação à questão científica relacionada à saúde.
 
Enquanto em 2011 nós tínhamos muita dificuldade para fazer essa suposta prova científica dos males dos agrotóxicos — porque sempre havia pessoas que afirmavam que o agrotóxico não fazia tão mal, que até certo limite não tinha problema, que se não fosse utilizado agrotóxico haveria pessoas passando fome no Brasil —, na produção do segundo filme não encontramos esse problema e conseguimos algumas parcerias importantes. Primeiro foi a construção dos dossiês sobre Impactos dos Agrotóxicos na Saúde, que é o dossiê produzido pela Associação Brasileira de Saúde Coletiva em 2012.
 
Foram lançados três volumes durante o ano, que são uma compilação de denúncias do uso de agrotóxicos e chamadas de como se fazer políticas públicas para eliminar o uso de agrotóxicos e, principalmente, como conseguimos ter alternativas. Outra parceria relevante foi o engajamento da Fiocruz dentro da campanha. A Fiocruz, enquanto instituição mais importante de pesquisa em saúde no Brasil, ligada ao próprio Ministério da Saúde, em 2012 assumiu sua participação na campanha, inclusive financiou o filme e se colocou como uma entidade pública, de saúde pública e que tem interesse em defender a saúde pública acima dos interesses privados — e esse é o grande contraponto. Em terceiro lugar, tivemos a adesão do Instituto Nacional do Câncer, que também realizou um Seminário no Rio de Janeiro, em 2012, e no filme o presidente do instituto fez declarações bem enfáticas no sentido de demonstrar claramente a relação entre o aumento de casos de câncer e o uso de agrotóxicos. Então, essas são as evidências muito fortes que conseguimos e que fazem a diferença entre o lançamento do primeiro filme e o do segundo.

“Você aumenta a plantação de transgênico e consequentemente aumenta o uso de agrotóxico, porque o transgênico é feito para isso”

IHU On-Line - De que maneira a temática dos agrotóxicos está relacionada às políticas públicas de segurança alimentar e combate à fome, hoje? E qual seria a alternativa?
Alan Tygel – Temos, desde 2003, esse governo com uma cara popular, mas que no fim das contas manteve as velhas estruturas. O governo federal vem tentando manter uma política dupla-face de apoiar o agronegócio da maneira tradicional, com financiamentos que chegam a R$ 120-140 bilhões para a monocultura de soja e de milho, as quais já ocupam quase 90% do território agricultável brasileiro, e ao mesmo tempo faz políticas de fortalecimento da agricultura familiar camponesa. Então, podemos citar dois programas importantes da compra direta de alimentos, que é o Programa Nacional de Alimentação Escolar, que incluiu a compra de 30% de seus recursos para a agricultura familiar, e o Programa de Aquisição de Alimentos, que faz a compra direta da agricultura familiar e garante a venda dos alimentos.
 
Além disso, no ano passado, fruto da nossa mobilização, foi lançada a Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica – PNAPO, uma política construída pelos movimentos sociais em torno da Articulação Nacional de Agroecologia. Trata-se de uma política bem avançada, que responde a sua questão: “O que nós sugerimos?” Sugerimos a Política Nacional que foi construída dentro da Articulação de Agroecologia, que previa uma série de coisas que começam com a reforma agrária, porque não podemos falar de Segurança e Soberania Alimentar, não podemos falar de Produção Orgânica, se não tivermos segurança de que o agricultor vai ter terra para plantar. Então, a reforma agrária é a base dessa história toda, mas a questão da água, das sementes, das zonas livre de agrotóxico, tudo isso estava presente nesse plano inicial. 
 
A política foi aprovada, mas óbvio que não foi aprovada da maneira que queríamos. Ela sofreu uma série de modificações no Legislativo, que é extremamente conservador. De todo modo, hoje estamos no processo de implementação do Plano Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica. Os recursos desse plano são ínfimos perto dos que o agronegócio recebe, mas, enfim, podemos dizer que estamos andando. Temos dentro dele um grupo de trabalho, o qual vai construir um Plano Nacional de Redução de Uso de Agrotóxico. Então, de Política Pública estamos assim: de um lado, R$ 120 bilhões para o agronegócio e, de outro, R$ 10 a 15 bilhões para a agricultura familiar, e ainda com avanços muito tímidos. Não podemos dizer que não é nada, mas é pouca coisa dentro do que precisamos.
 
IHU On-Line - Qual a relação entre os agrotóxicos e produtos transgênicos especialmente no ambiente empresarial?
 
Alan Tygel – Esse é um debate que nunca podemos fazer em separado. O aumento do uso de agrotóxicos no Brasil está intimamente ligado à liberação dos transgênicos no país no ano 2000 e há um aumento gradativo do número de culturas aprovadas e da área plantada de transgênicos. Os transgênicos são — a grande maioria — plantas geneticamente modificadas para poderem ser resistentes aos agrotóxicos. Então, uma coisa não consegue ser descolada da outra. Você aumenta a plantação de transgênico e consequentemente aumenta o uso de agrotóxico, porque o transgênico é feito para isso. No início dos transgênicos, havia uma falsa propaganda de que eles iriam acabar reduzindo o uso de agrotóxicos e aumentar a produtividade, mas não aconteceu nem uma coisa nem outra.
 
O que vemos hoje é o aumento de plantas resistentes dentro das plantações de agrotóxicos, a contaminação do meio ambiente, porque não se consegue isolar os transgênicos e, principalmente aí, há uma dominação do mercado, que transformou os transgênicos não em uma possibilidade de escolha para o agricultor, mas sim numa imposição. Sempre digo que os transgênicos causam vários níveis de problemas. O primeiro problema básico é o de saúde, por conta da total falta de estudos ambientais e de saúde, porque as pesquisas com transgênico se baseiam no princípio de equivalência: se faz uma modificação genética, se vê que uma planta tem a mesma quantidade de proteínas que a outra e se diz que elas são iguais. Mas tem uma complexidade enorme que a própria ciência não consegue dar conta e que é ignorada.

“Não podemos tratar separadamente a questão do transgênico da questão dos agrotóxicos, porque os dois estão dentro do mesmo pacote tecnológico”

Implicações da transgenia
No ano passado, um pesquisador francês realizou um estudo sobre ratos que se alimentavam sem transgênicos e agrotóxicos, e outros que se alimentavam com transgênicos e agrotóxicos. Ele observou que os ratos que tinham a alimentação baseada em transgênicos e agrotóxicos desenvolviam uma quantidade de tumores muito maior que os outros. Então, existem algumas evidências de problemas na saúde, mas há um grande desconhecimento nesta área. O segundo problema diz respeito à questão da soberania alimentar, a soberania do camponês, do agricultor familiar sobre as sementes que ele tem. A semente é um patrimônio da humanidade, é a fonte da vida.
 
No momento em que ela vira uma patente, uma mercadoria, uma coisa que se comercializa, deixamos de ter a possibilidade de escolha e a capacidade de reproduzir a sua semente socialmente.
 
Legalmente, o agricultor pode ser penalizado se ele reproduzir uma semente transgênica. Além disso, tem a contaminação ambiental, principalmente no caso do milho, que é uma espécie que faz a polinização aérea. Mas a CTNBio libera a plantação de milho e exige que deve haver uma distância em torno de 30 a 60 metros entre uma plantação de transgênicos e outra, no entanto sabemos que o pólen e as sementes percorrem uma distância muito maior do que essa.
 
Então, não podemos tratar separadamente a questão do transgênico da questão dos agrotóxicos, porque os dois estão dentro do mesmo pacote tecnológico, o qual estamos recebendo desde a revolução verde e que vem ameaçando de forma muito grave a nossa segurança e soberania alimentar.
 
Legislação dos agrotóxicos
 
Durante o ano passado, ocorreu uma violenta ofensiva do agronegócio no sentido da desregulamentação da legislação de agrotóxicos. Então, até 2013 se tinha um modelo de que, para o agrotóxico entrar no Brasil, era preciso uma aprovação do Ministério da Agricultura, do Ministério do Meio Ambiente e do Ministério da Saúde. Isso funcionava de alguma forma, e havia dentro do Ministério da Saúde — e da ANVISA, principalmente — uma boa resistência, um cuidado maior com a saúde. Mas, durante o ano passado, a partir do caso da lagarta Helicoverpa, na Bahia, que causou uma suposta grande perda para o agronegócio, os produtores rurais pressionaram tanto no Congresso Nacional que conseguiram aprovar uma lei de que se o Estado declara uma situação de emergência — por exemplo, uma emergência fitossanitária —, o Ministério da Agricultura, sozinho, pode aprovar a importação de um agrotóxico proibido. Foi o que aconteceu com o Benzoato, um agrotóxico que já havia se tentado comercializar no Brasil. Mas em 2004-2005, ele já havia sido recusado por ser muito tóxico e causar problemas neurológicos. Mas aí inventou-se que o Benzoato era a única solução para combater essa lagarta e então se criou e efetivou a lei mais rápida da história do Congresso Brasileiro. Numa sexta-feira, aprovaram a lei que permitia a importação, na segunda-feira fizeram o decreto que regulamentava e na terça-feira já tinha Benzoato entrando no Brasil.
 
Isso tudo acontece num contexto de várias outras iniciativas. Nós temos notícias de que está circulando uma nova lei dos defensivos — que além de tudo ainda tira o nome de agrotóxico, uma conquista da Constituição de 1988 —, a qual pretende acabar com essa tripartite de aprovação de agrotóxico e criar uma estrutura parecida com a da CTNBio, que aprova os transgênicos. Esse órgão seria uma CTNAgro, ou coisa assim, que seria um órgão colegiado formado por várias pessoas. Portanto, se eventualmente o Ministério da Saúde dissesse que determinado agrotóxico faz mal à saúde, e se as outras 14 pessoas disserem que ele não faz mal à saúde, então ele seria aprovado por maioria, como aconteceu com todas as sementes transgênicas que entraram na CTNBio até hoje e foram aprovadas.
 
Temos muito medo de que isso aconteça com os agrotóxicos. Então, estamos vivendo esse momento de ataque à legislação e fazemos esse chamado para a sociedade brasileira, que se organize, que conheça o problema. Um bom lugar para se entender o problema é o filme O veneno está na mesa 2, que já está disponível no Youtube. As pessoas precisam procurar entender, em suas cidades, onde estão os produtores agroecológicos, onde há uso de agrotóxicos, como é possível interferir na legislação, quem são os deputados, os senadores e vereadores que estão contra ou a favor dessas medidas.
 
fonte: Unisinos

Jogue a margarina no lixo


Como expliquei semana passada, o mês de novembro terá três dicas do Guia Papacapim de Alimentação Saudável, pra compensar o silêncio dos últimos dois meses. E a dica número 10 é:
 
 
Pode jogar sem remorso. Se você seguiu esse guia desde o início, deve lembrar que a dica número 1 é “coma comida de verdade“. Margarina é feita em fábricas, com uma mistura de ingredientes adulterados (como óleos vegetais que sofreram um processo de hidrogenação) e ingredientes artificiais nocivos pra saúde e está tão perto de ser ‘comida de verdade’ quanto uma vela ou um giz de cera.
 
Eu adoro exibir as vantagens nutricionais que comida vegana oferece, mas não vou cobrir os olhos e fingir que margarina é melhor pra saúde, como muitas pessoas acreditam. Mesmo sendo uma opção vegana. Correndo o risco de ver a polícia vegana bater na minha porta e pedir explicações, gostaria que dizer que do ponto de vista estritamente nutricional manteiga (principalmente quando feita com leite orgânico e não leite carregado de hormônios/antibióticos) é muito superior à margarinas, mesmo as que se dizem sem gordura trans. Pronto, disse. Agora é só esperar a polícia vegana chegar pra me multar por propaganda anti vegana.
 
Mas comecemos pelo início, já que descobri que muita gente não sabe qual é a diferença entre manteiga e margarina. A primeira é feita exclusivamente de gordura animal: creme de leite (ou nata) é batido até separar a gordura da água. Manteiga é geralmente composta de 80% de gordura (animal), 16% de água e 4% de leite (manteiga salgada também tem sal). Margarina é feita com óleos vegetais que sofreram um processo químico que os tornam sólidos em temperatura ambiente, conservadores, estabilizantes, aromatizantes, corantes e outros aditivos. Abaixo vai a lista de ingredientes da margarina Qualy (Sadia):
 
ÓLEOS VEGETAIS LÍQUIDOS E INTERESTERIFICADOS, ÁGUA, LEITE EM PÓ DESNATADO RECONSTITUÍDO, SORO DE LEITE EM PÓ DESNATADO RECONSTITUÍDO, SAL, 15.000 U.I DE VITAMINA A POR KG, ESTABILIZANTES: MONO E DIGLICERÍDEOS DE ÁCIDOS GRAXOS (INS 471) E LECITINA DE SOJA (INS 322), CONSERVADORES: SORBATO DE POTÁSSIO (INS 202) E BENZOATO DE SÓDIO (INS 211), ACIDULANTE ÁCIDO CÍTRICO (INS 330), ANTIOXIDANTE : BHT (INS 321), TBHQ (INS 319) E EDTA (INS 385), AROMA IDÊNTICO AO NATURAL DE MANTEIGA, CORANTE BETACAROTENO SINTÉTICO IDÊNTICO AO NATURAL (INS 160AI) E CORANTES NATURAIS: DE URUCUM (INS 160B) E CÚRCUMA (INS 100).
 
Além de ser cheia de ingredientes artificiais, essa margarina não é vegana. A maioria das margarinas utiliza, além de óleos vegetais, derivados do leite em sua composição. E antes que me perguntem quais margarinas são veganas, já vou dando a resposta: a única maneira de saber é lendo a lista de ingredientes (que aliás é a dica número 2 do Guia).
 
A origem da margarina, o processo de hidrogenação e as demoníacas gorduras trans
Desenvolvida na segunda metade do século 19 como um substituto barato pra manteiga, a margarina era feita a partir de gordura de boi. Até que no início do século 20 a invenção do processo de hidrogenação, combinada com uma escassez de gordura animal, deu origem à uma nova geração de margarinas: um produto híbrido feito com óleos vegetais hidrogenados e gordura animal. Como óleo vegetal é mais barato do que gordura animal, com o tempo a composição da margarina foi evoluindo e hoje ela é feita basicamente de óleo vegetal, com uma quantidade pequena de algum derivado do leite (ou não).
 
Mas o que são óleos hidrogenados? Uma rápida lição de Química vai ajudar a entender melhor a composição das margarinas e porque o lugar delas é no lixo, não na seu pão. Segundo Wikipedia, “hidrogenação é a reação química que ocorre quando uma molécula é obtida pela adição de hidrogênio à uma cadeia carbônica insaturada normalmente na presença de um metal catalisador como níquel, platina ou paládio e dando origem a um alcano”. Complicou? Trocando em miúdos isso significa que moléculas de hidrogênio são adicionadas a um óleo vegetal, que é naturalmente líquido, modificando sua estrutura e fazendo com que ele se solidifique. Manteiga não passa por esse processo pois é uma gordura saturada, que é naturalmente sólida em temperatura ambiente. Quem já fritou carne sabe que o óleo que sobra na panela se solidifica quando esfria. Culpa da gordura saturada da carne, que derreteu e ficou na panela.
 
Mas voltando ao processo de hidrogenação, além de deixar o óleo vegetal sólido em temperatura ambiente ele aumenta a vida útil do produto. Nada surpreendente, já que comida industrializada é feita pra durar o máximo possível nas prateleiras (e oferecer o máximo de lucro pra quem a produz). Mas ao desnaturar o óleo vegetal é produzida a nefasta gordura trans, cujos malefícios pra saúde já não são mais segredo. Ela está ligada a um maior risco de doenças cardio-vasculares, câncer, disfunções imunológicas e dificulta a absorção de ácidos graxos essenciais, como o ômega 3, podendo causar carências.
 
O mistério das margarinas ‘sem gorduras trans’
Essa dúvida estava na minha cabeça há muito tempo. Se 1-óleo vegetal é líquido em temperatura ambiente, 2-margarina é sempre sólida em temperatura ambiente e 3-pra transformar um óleo líquido em um produto sólido é preciso passar pelo processo de hidrogenação (que produz gorduras trans), como é possível produzir margarinas sem gorduras trans? Resolvi o problema acusando a indústria alimentícia de estar nos enganando, o que sabemos que ela faz o tempo todo. Mas depois de anos de dúvida descobri enfim a chave do mistério. Desde que os malefícios das gorduras trans passaram a ser conhecidos de todos, a indústria alimentícia precisava de uma alternativa pra solidificar óleos sem passar pela hidrogenação. Hoje as margarinas que se dizem ‘sem gordura trans’ utilizam um processo chamado ‘interesterificação’.
 
Prontos pra mais uma lição de Química? Minha amiga Wikipedia explica: “Gorduras interestificadas são obtidas a partir de mistura de óleo vegetal totalmente hidrogenado (gorduras trans) e óleos vegetais líquidos. O processo de interesterificação consiste em misturar estes óleos em proporções adequadas, submetê-los ao processo de interesterificação, onde sob ação de um catalisador e condições específicas de processamento, ocorre a reação para produção das gorduras com a consistência para a aplicação a que destina.” AHA! Sabia que tinha alguém mentindo nessa história! As margarinas ‘sem gorduras trans’ são produzidas com gordura interesterificada (leia a lista de ingredientes da margarina Qualy acima e você terá a confirmação), que nada mais é que uma mistura de gordura hidrogenada (trans) e óleos líquidos.
 
Como a margarina obtida com essa mistura é qualificada de ‘sem gordura trans’ continua sendo um mistério pra mim, mas supondo que isso realmente seja verdade (será que os ácidos graxos da gordura trans se re-combinam no processo e voltam a ser o que eram antes?) a nova geração de margarinas está longe de ter se transformado em algo saudável. Tudo indica que gordura interesterifica é ainda mais nociva do que gordura trans! Além dos malefícios causados pela gordura trans, esse estudo mostra que ela também altera o metabolismo humano e aumenta a taxa de glicose no sangue de 20% em apenas um mês! Pois é, a maneira que eles encontram de resolver o problema da gordura trans foi criando um problema ainda maior.
 
E antes de encerrar esse assunto, vale lembrar que margarina não é o único produto que contem gordura trans/interesterificada. Uma imensa quantidade de alimentos industrializados, como sorvetes, biscoitos, bolachas salgadas, molhos, salgadinhos, entre outros, também usam esses tipos de gordura. E se você ainda acredita no que os fabricantes escrevem nos rótulos, saiba que eles não são obrigados a dizer que tem gordura trans em um produto se a quantidade dessa gordura por porção for menor do que 0,2g e eles têm total liberdade pra escolher o tamanho de suas porções. Ou seja, um fabricante de biscoitos pode escrever ‘zero gordura trans na porção’ e decretar que uma porção é meio biscoito. Sério. Não se engane: se tiver gordura (ou óleo) vegetal na lista de ingredientes, pode ter certeza que ela é hidrogenada ou interesterificada. Mais um motivo pra comer comida de verdade.
 
Gordura trans não é o único ingrediente diabólico da margarina
Como expliquei no início desse post, margarinas são feitas a partir de gorduras muito, muito malvadas, mas também de um número importante de ingredientes artificiais. Os óleos vegetais que entram na composição da margarina são  submetidos a um processo de branqueamento (mais um!) e de desodorização (mais outro!), pra que eles percam toda cor, sabor e aroma. E depois da hidrogenação/interesterificação, corantes, aromatizantes, espessantes, emulsificantes e outros aditivos sintéticos são adicionados à mistura. Esse coquetel químico vai pro potinho de plástico e chega na mesa das pessoas como um alimento ‘mais saudável do que a manteiga’.
 
A verdade é que margarina é um produto criado em laboratórios, altamente manipulado, adulterado, hidrogenado, interesterificado, branqueado, desodorizado e injetado com inúmeros aditivos sintéticos, que perturba o seu metabolismo, desequilibra seu sistema imunológico e multiplica suas chances de desenvolver doença cardíacas, diabetes e até câncer. Só uma pessoa muito irresponsável chamaria isso de ‘alimento saudável’, mas é o que a indústria alimentícia e, pra minha grande indignação, alguns nutricionistas fazem. Pra mim margarina nem merece ser chamada de alimento e acrescentar vitaminas sintéticas, ômega 3 ou fibras a esse coquetel químico, além de ser uma aberração, não faz absolutamente nenhuma diferença.
 
A solução
Se ao constatar, mais uma vez, que a comida que enche as prateleiras dos supermercados está entupida de ingredientes nocivos você se sente impotente, gostaria de relembrar que o objetivo desse  guia  (e do blog) é informar, alertar e inspirar, pra que vocês possam fazer escolhas conscientes. Eu não passo dias e dias pesquisando e escrevendo esses posts simplesmente pra ter o prazer sádico de assustar vocês. Todo esse trabalho tem um único objetivo: empoderar os meus leitores, mostrar que não somos obrigados a poluir o nosso corpo com esses produtos e que tem alternativas. Então passemos às boas notícias.
 
Se você não é vegano, e esse guia tem a ambição de ser útil pra todos, independente do regime, manteiga, de preferência orgânica e produzida localmente (no Nordeste não é difícil encontrar manteiga de garrafa produzida localmente), é uma opção muito mais saudável do que margarina. Tem gente dizendo que gordura saturada (como a manteiga) não é tão ruim quanto se imaginava e o grupo de defensores desse tipo de gordura está aumentando. Eu prefiro adotar uma posição mais prudente: tenho certeza que manteiga é muito mais saudável do que margarina, mas não acho que isso é desculpa pra exagerar no consumo.
 
Pros veganos e vegetarianos/onívoros interessados em diminuir o consumo de produtos de origem animal, eu trago boas novas. Preparados? Vocês não precisam nem de manteiga nem de margarina, dá pra viver perfeitamente sem as duas. Eu cresci comendo margarina que, por ser mais barata do que manteiga, faz parte da vida da maior parte dos brasileiros, mas a troquei por manteiga quando fui morar na França. Quando me tornei vegana não hesitei um segundo: voltei a consumir margarina.
 
Pra mim essas gorduras pra espalhar no pão, seja manteiga ou margarina, eram uma necessidade básica. Nunca me passou pela cabeça viver sem pelo menos uma das duas. Só quando fui morar na Palestina percebi que elas eram totalmente desnecessárias. Os palestinos não usam nenhuma das duas e espalham coisas muito mais nutritivas no pão deles, como hummus e molho de tahina. Mas naquelas terras a maneira mais simples de comer pão é com azeite de oliva. Pra mim foi uma revelação total!
 
Temos tendencia a procurar atalhos e soluções prontas pra tudo. Queremos a facilidade de trocar um produto nefasto por um produto saudável, tão conveniente, acessível e barato quanto o primeiro.  Suprime X, troca por Y e fim da discussão. Na maior parte do tempo você não encontrará um alimento vegetal idêntico ao alimento de origem animal que está tentando excluir, mas o veganismo tem a imensa vantagem de te oferecer não um, mas vários substitutos.
 
Quando eu comia manteiga, 90% do tempo era ela que acompanhava o meu pão. Hoje eu como pão com hummus e molho de tahina, como aprendi na Palestina, mas também com inúmeros patês e pastas que criei na minha cozinha ou aprendi com os amigos. E a solução mais simples de todas e que exige zero preparação é, como os palestinos me ensinaram, usar azeite. Você tem a opção de espalhar um pouco sobre o pão e degustar imediatamente ou grelhar em uma frigideira ( o pão vai ficar deliciosamente crocante). 
 
Duas outras soluções ultra simples e saborosas (e saudáveis) são tomate ralado temperado com sal, pimenta e um pouco de azeite (aprendi com amigos israelenses e virei fã) e abacate temperado com sal e, se quiser, pimenta do reino. Alguns leitores me falaram que gostam de colocar o azeite no congelador (puro ou com ervas frescas) e usar a mistura semi-sólida (azeite não congela totalmente) pra espalhar no pão. Se vocês tiverem mais dicas, dividam conosco nos comentários.
 
Se você usa margarina pra cozinhar, o azeite também pode cumprir esse papel. Nesse caso não precisa comprar um azeite extra virgem e extra caro, pois já que ele será aquecido isso não fará nenhuma diferença. E se nesse momento você está se perguntando quais óleos são os melhores pra cozinhar, uma pergunta que me fazem com frequência, preciso dizer que adoraria escrever sobre o assunto um dia, mas hoje vou ficar por aqui, pois esse post já tem muita informação pra ser digerida.
 
Pro seu pão não ficar pelado, como na primeira foto desse post, aqui vão algumas das minhas receitas preferidas pra acompanha-lo: hummus, molho de tahina, mutabbal, queijo de castanha fermentado, guacamole e tapenade. Com exceção do mutabbal, que é melhor consumido logo depois de preparado, todas essas receitas podem ser preparadas com quantidades grandes e deixadas na geladeira por vários dias, pra você ter sempre algo gostoso e nutritivo pra passar no pão. *Ops! Quando publiquei o post ontem esqueci de dizer que guacamole também deve ser consumido imediatamente depois do preparo.
 
publicado em nov/2013 pelo Papapacapimveg

Para OMS, resistência de bactérias a antibióticos é 'ameaça global'

    
A resistência a antibióticos é uma "ameaça global" à saúde publica, segundo um novo relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS).

O órgão analisou dados de 114 países e afirmou que essa resistência está ocorrendo "em todas as regiões do mundo".

A reportagem é de Pippa Stephens, publicada por BBC Brasil, 30-04-2014.

A OMS disse que caminhamos rumo a uma "era pós-antibiótico", em que pessoas morrem de infecções simples que são tratáveis há décadas.

Ainda acrescentou que provavelmente haverão consequências "devastadoras" a não ser que medidas sejam tomadas com urgência.

Doenças comuns
O relatório trata de sete bactérias que causam doenças comuns, ainda assim sérias, como pneumonia, diarreia e infecções sanguíneas.

O documento indica que dois antibióticos-chave não funcionam em mais da metade dos pacientes, em vários países.

Um deles, o carbapedem, é usado como um "último recurso" para tratar infecções potencialmente mortais, como pneumonia, infecções sanguíneas e infecções em recém-nascidos, causadas pela bactéria K.pneumoniae.

Bactérias normalmente sofrem mutações até se tornarem imunes a antibióticos, mas o mal uso desses medicamentos - como sua prescrição desnecessária por médicos ou pacientes que não terminam seus tratamentos - faz com que isso ocorra mais rápido.

Novos antibióticos
A OMS diz que novos antibióticos devem ser desenvolvidos, enquanto governos e indivíduos devem tomar medidas para retardar o processo de resistência das bactérias.

No relatório, o órgão diz que a resistência a antibióticos como o usado para combater a bactéria E.coli em infecções urinárias aumentou de "praticamente zero" nos anos 1980 para mais da metade dos casos atuais.

Em alguns países, o antibiótico usado para tratar essa infecção não funcionaria em "mais da metade das pessoas tratadas com o medicamento".

"Sem uma ação urgente e coordenada entre as diferentes partes envolvidas nessa questão, o mundo caminha rumo a uma era pós-antibiótico, em que infecções comuns e ferimentos simples que são tratáveis há décadas podem matar novamente", afirma Keiji Fukuda, diretor-geral assistente da OMS.

Fukuda diz que os antibióticos têm sido um dos "pilares" que levaram as pessoas a viver por mais tempo e de forma mais saudável.

"A não ser que medidas sejam tomadas para melhorar os esforços de prevenir infecções e mudar a forma como produzimos, prescrevemos e usamos antibióticos, o mundo perderá uma das armas da saúde pública", afirma Fukuda. "As implicações disso serão devastadoras."

Falha
O relatório também identificou que um tratamento usado como último recurso para combater a gonorréia, infecção transmitida sexualmente e que pode levar à infertilidade, "havia falhado" no Reino Unido, na Áustria, na Austrália, no Canadá, na França, no Japão, na Noruega, na África do Sul, na Eslovênia e na Suécia.

Mais de um milhão de pessoas no mundo contraem gonorréia diariamente, segundo a OMS.
O relatório lista medidas como melhores práticas de higiene, acesso a água limpa, controle de infecções em centros de saúde e vacinação como formas de reduzir a necessidade de antibióticos.

"Nós encontramos taxas altíssimas de resistência a antibióticos em nossas operações de campo", diz a Jennifer Cohn, diretora médica da organização Médicos Sem Fronteiras, para quem o relatório da OMS deve servir como um alerta.

"Governos devem incentivar o desenvolvimento de novos antibióticos de baixo custo que não dependam de patentes e que sejam adaptados às necessidades de países em desenvolvimento."

Plano global
Cohn acrescenta que um plano de ação global deve ser criado para o "uso racional de antibióticos" e para que "medicamentos de qualidade cheguem a quem precisa deles, mas sem serem usados em demasia ou vendidos a um preço que os tornem inviáveis".

Nigel Brown, presidente da Sociedade de Microbiologia Geral do Reino Unido, diz ser vital que microbiológos e outros pesquisadores trabalhem juntos para desenvolver novas abordagens para lidar com essa resistência de bactérias.

"Isso inclui novos antibióticos, mas também estudos que levem à criação de formas mais ágeis de diagnóstico, que ajudem a entendem como os micróbios se tornam resistentes a medicamentos e sobre como o comportamento humano influencia essa resistência."

fonte:  Unisinos