Organização das Nações Unidas estima que de cerca de 100 tipos de cultura que provêm 90% dos alimentos do mundo, 71% são polinizados por abelhas
Comissão Europeia suspende uso de pesticidas que matam abelhas
Foto: Pieter Boer, Greenpeace / Divulgação
Viviane Vaz
Bruxelas
O apicultor grego Emmanuel Alevantis aplaudiu na última segunda-feira, dia 29, em Bruxelas, a decisão da Comissão Europeia de restringir o uso de pesticidas suspeitos de dizimar populações de abelhas - clotianidina, imidacloprido e tiametoxam. A medida foi aprovada após uma votação entre 27 países da União Europeia e foi obtida sem ampla maioria: 15 países votaram a favor da proibição dos pesticidas; oito, contra; enquanto quatro se abstiveram.
Cientistas defendem que apenas um grama destes pesticidas é suficiente para matar 250 milhões de abelhas, fenômeno que tem sido registrado em alguns países da Europa e dos Estados Unidos. "Sinto inclusive que está ficando difícil encontrar mel líquido aqui no norte da Europa", disse Alevantis ao Terra.
O apicultor possui uma empresa familiar que produz mel na ilha de Creta desde 1976. Há um ano ele começou a vender o produto em feiras artesanais de Bruxelas e abriu um ponto fixo de venda no vilarejo Overijse, a cerca de 10 quilômetros da capital belga. "Apesar de não termos este problema em Creta, considero uma boa medida controlar o uso destes pesticidas que estão matando as abelhas", afirmou.
O apicultor explica que na ilha grega a agricultura é voltada para o mercado interno e não utiliza os pesticidas da produção em grande escala. "Não vemos o benefício de uma agricultura intensiva e agressiva", explicou.
Foto: Michael Würtenberg, Greenpeace / Divulgação
Diversas ONGs ambientais também apoiaram a decisão na Europa, mas esperam medidas mais firmes do órgão executivo da UE. "Gostaríamos que a Comissão não agisse apenas contra os neonicotinoides, mas que também tivesse em conta as evidências científicas de que outras substâncias são tão tóxicas quanto estas que serão banidas em breve", afirmou Marco Contiero, responsável pela política agrícola da unidade europeia do Greenpeace. "Num relatório científico recente, identificamos sete substâncias que colocam problemas muito sérios para as abelhas e outros insetos polinizadores", declarou.A restrição do uso dos três pesticidas em território da UE começa a valer a partir de julho e deve ser mantida por dois anos nas plantações que não atraem abelhas. Os pesticidas proibidos são produzidos principalmente pela empresa alemã Bayer e a suíça Syngenta - também atuantes no Brasil. Ambas as fabricantes argumentam que não está comprovada a relação entre o uso de neonicotinoides e o acentuado declínio no número de abelhas na Europa, fenômeno que está sendo chamado de "Colapso de Desordem das Colmeias". Estima-se que em algumas zonas a mortalidade chega a 85%.
Abelhas brasileiras
No Brasil, o Ibama chegou a suspender a utilização das mesmas substâncias por três meses no ano passado, depois de começar a estudar a relação entre os neonicotinoides e as abelhas em fevereiro de 2010. A partir desta data, desenvolveu uma série de estudos que culminaram com a proibição da aplicação aérea sobre as lavouras dos produtos com imidacloprido, tiametoxam, clotianidina e também fipronil como ingredientes ativos.
"Todos eles associados a problemas de mortandade de abelhas no país, embora aqui não haja comprovada ocorrência do fenômeno descrito internacionalmente como Colapso de Desordem das Colméias", afirmou ao Terra o coordenador-geral de avaliação e controle de substâncias químicas da entidade, Márcio R. de Freitas.
Depois de discussões no Congresso brasileiro em 2012, a Secretaria de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura, em conjunto com o Ibama, voltou a autorizar, em janeiro deste ano, a aplicação aérea das quatro substâncias para as monoculturas de soja, algodão, cana, arroz e trigo no Brasil. "Para as demais culturas, a proibição da aplicação aérea se mantém", detalha Márcio. Para o presidente da Confederação Brasileira de Apicultura (CBA), José Cunha, a flexibilização na legislação é resultado da pressão da indústria.
A Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) estima que de cerca de 100 tipos de cultura que provêm 90% dos alimentos do mundo, 71% são polinizados por abelhas. Somente na Europa, 84% dos 264 tipos e cultura existentes são polinizados por animais e 4 mil espécies de plantas existem graças a polinização das abelhas.
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