Matéria publicada em 21/04/2012 no jornal Cruzeiro do Sul serve de alerta para que façamos nossa parte hoje para garantir abastecimento de água para futuras gerações. Importante também cobrarmos da administração pública de cada município o tratamento do esgoto, caso das vizinhas Alumínio, Mairinque e Itu. Leia o artigo completo:
O que hoje é uma suposição, poderá ser uma confirmação a ser feita por pesquisadores da Ufscar/Sorocaba
A água poderá ser um artigo raro e caro para a população de Sorocaba em 2030. Essa projeção é baseada no atual ritmo de despejo do esgoto na represa de Itupararanga e no crescimento populacional na região. O que hoje é uma suposição, daqui a dois anos poderá ser confirmada pelo resultado do trabalho de pesquisadores do câmpus Sorocaba da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar). Um trabalho iniciado no mês passado pela instituição de ensino pretende prever, com base em estudos anteriores, qual será o futuro do reservatório responsável por abastecer 80% dos habitantes da cidade.
O estudo será conduzido pelo professor de Microbiologia Ambiental André Cordeiro Alves dos Santos, que também ocupa o cargo de membro do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Sorocaba e Médio Tietê (CBH-SMT). Já a tarefa de detectar o tempo de vida útil da represa de Itupararanga será da pesquisadora Mariana Beraldi Rigonato, 23 anos, aluna de mestrado em Biotecnologia e Monitoramento Ambiental da universidade.
Mariana utilizará um modelo matemático para simular o ambiente da represa de Itupararanga, com dados de aproximadamente cinco diferentes pesquisas feitas desde 2009 no reservatório. "O objetivo será prever o que pode acontecer a partir de alguns cenários", diz. "E vamos identificar o ano em que não poderemos mais usar essa água para consumo", completa. Os números atuais da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) revelam que a qualidade da água da represa é a pior registrada nos últimos 10 anos. O cálculo é baseado no Índice de Qualidade das Águas Brutas para Fins de Abastecimento Público (IAP) e o relatório mais recente, referente a 2011, revela que a classificação caiu de boa para regular.
O atual IAP da represa de Itupararanga é de 37, bem próximo da classificação ruim. Esse número é o pior registrado desde 2002, ano de início da medição. As médias anuais relatam a queda de 51 pontos em uma escala de 0 a 100, na análise feita pelo aparelho de medição instalado próximo à barragem, na estrada que liga Ibiúna a Votorantim. Santos teme que a queda na qualidade da água reflita futuramente no consumo e no bolso do sorocabano. "Posso dizer com segurança que, daqui a 20 anos, enfrentaremos problemas com o abastecimento público se a atual realidade não melhorar", comenta.
O professor teme uma total eutrofização (processo que consiste na gradativa concentração de matéria orgânica acumulada nos ambientes aquáticos) do reservatório, responsável pelo aumento de compostos químicos ricos em fósforo ou nitrogênio e, consequentemente, pela diminuição da qualidade da água. "Eu não gosto muito de falar sobre isso porque parece que estou sendo catastrofista", desabafa. A consequência desse crescimento constante da poluição em Itupararanga é o aumento do valor da água para o consumidor. "Certamente vai ficar mais cara, pois o Saae (Serviço Autônomo de Água e Esgoto) precisará melhorar o tratamento e repartir os custos de operação com a população", diz.
O que também pode ocorrer é um racionamento da água, caso a população abastecida por Itupararanga continue a crescer. "Com isso, não teremos água disponível dessa fonte", relata. Mas existe um "plano B" para Sorocaba captar água de qualidade, caso Itupararanga fique totalmente eutrofizada? A resposta de Santos é não! As fontes mais próximas seriam os rios Ipaneminha e Pirajibu, mas ambas já apresentam algum tipo de comprometimento.
De acordo com Santos, o rio Ipaneminha nasce em uma região rural de Salto de Pirapora e passa por Votorantim. "A cidade (Votorantim) tem crescido em direção à bacia do Ipaneminha e utilizará as suas águas para abastecer os moradores da região, principalmente de condomínios construídos naquele local", diz. Já a situação do Pirajibu é ainda mais preocupante, pois recebe o esgoto in natura de Alumínio, Mairinque e de Itu. "Estamos em um "mato sem cachorro"", desabafa Santos.
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