Editorial - Sacrifício de animais


Editorial do jornal Cruzeiro do Sul em 21/07/2012

O que interessa à comunidade é saber por que os animais, em sua maioria filhotes de cachorro, foram mortos e se não haveria, para eles, nenhuma solução além da eutanásia

Notícia publicada na edição de 21/07/2012 do Jornal Cruzeiro do Sul, na página 3 do caderno A - o conteúdo da edição impressa na internet é atualizado diariamente após as 12h.

O uso eleitoral das fotos que mostram cães e gatos sacrificados no Centro de Zoonoses de Sorocaba é consequência previsível de um fato extremamente chocante e do momento em que ele ocorreu, mas não torna a ocorrência menos grave nem deve ser alegado, por aqueles que têm a responsabilidade de buscar soluções e pelos que têm a obrigação de fiscalizar e de cobrar, como desculpa para que o assunto seja empurrado para baixo do tapete.

Uma coisa é a guerrilha política travada nas redes sociais, com mensagens que procuram causar o maior dano possível à imagem do prefeito Vitor Lippi (PSDB) e atingir, por tabela, o partido que ele representa. As mensagens, algumas com acusações pesadas, não passam de um desdobramento sórdido da guerra eleitoral, que cabe ao prefeito e a seu partido enfrentar com os instrumentos que julgarem adequados, seja por via judicial, seja com uma campanha de esclarecimento lá mesmo nas redes sociais. Mas, para todos os efeitos, o problema é deles.

O que interessa à comunidade é saber por que os animais, em sua maioria filhotes de cachorro, foram mortos e se não haveria, para eles, nenhuma solução além da eutanásia, como afirma o Centro de Zoonoses. Até que os resultados dos exames necroscópicos sejam concluídos, tudo o que se tem é a palavra dos responsáveis pelo órgão, de que os animais sofriam de cinomose, e a dos representantes de quatro ONGs dedicadas à proteção dos animais, segundo os quais os cães aparentavam estar sadios no dia anterior à execução.

Sobre isso, é forçoso notar que a Prefeitura, intencionalmente ou não, criou uma rota de escape, ao afirmar em nota oficial que alguns dos 24 filhotes morreram de frio durante a madrugada. É fundamental, diante disso, que as autoridades se certifiquem, por todos os meios possíveis, que os cadáveres enviados para necrópsia foram dos cães com diagnóstico de cinomose, e não dos que teriam perecido devido ao frio ou outras causas naturais.

Nem é preciso notar que a história terá desfechos diametralmente opostos, de acordo com os resultados dos exames. Independentemente dos laudos, entretanto, a matança em série de animais já serviu para colocar às claras alguns fatos que há tempos rondam o noticiário, relativos à falta de estrutura do setor de Zoonoses para oferecer encaminhamento adequado aos animais doentes e sem dono e, tão ou mais grave que isso, à ausência de políticas públicas eficientes para conter a proliferação dos cães e gatos que vivem nas ruas e orientar sobre a posse responsável.

Não se pode afirmar que nada esteja sendo feito - a cidade conta com feirinhas de adoção e serviço de castração gratuito -, mas, ao que tudo indica, todos os esforços representam muito pouco em seu conjunto, diante da magnitude alcançada pelo problema, que está a demandar um tratamento de choque.

Tanto quanto a esterilização em larga escala da população animal que habita os espaços públicos e a revisão da legislação municipal, no sentido de cobrar dos munícipes e dos governantes um compromisso responsável com cães, gatos e outros bichos, é preciso que se adotem programas e ações mais efetivos para combater o abandono de animais, hoje bastante corriqueiro e revelador de uma crueldade ultrajante. 

Enquanto a população deixar animais soltos nas ruas, haverá cães e gatos doentes e abandonados, dependentes de uma atenção de saúde que, para ser bem sinceros, nem mesmo a população humana recebe. A posse responsável é a única solução verdadeiramente eficaz, e, no entanto, pouco se faz para difundi-la e torná-la realidade. É a irresponsabilidade coletiva, acima de tudo, a causa do sofrimento, da fome e das mortes de tantos animais.

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