Daniela Jacinto
daniela.jacinto@jcruzeiro.com.br
Há aproximadamente um mês, um cachorro preto tem permanecido em frente ao velório da Ossel da rua Mascarenhas Camelo, no Centro. Os comentários que circulam por lá, entre funcionários, é que o cachorro teria sido visto durante o velório de seu dono e não saiu mais daquele lugar, como se esperasse por ele para retornar para casa. A história de fidelidade ao dono é parecida com a que foi relatada no filme "Sempre ao seu lado", em que o ator Richard Gere interpreta um professor universitário que é acompanhado diariamente por seu cachorro até a estação de trem, retornando ao local no horário que o professor está de volta, para que juntos possam ir para casa. Quando o personagem tem um ataque cardíaco fatal, o cachorro continua indo até a estação de trem para esperá-lo durante os nove anos seguintes, até falecer. A história do filme é verídica e aconteceu no Japão entre as décadas de 1920 e 1930.
A copeira Adriana Alves, que trabalha durante a noite na Ossel, conta que ouviu essa história do cachorro estar à espera do dono e ficou intrigada. "Uma turma que estava no velório que estava comentando sobre isso. Daí uma mulher veio e disse que o dono dele faleceu e ele ficou ali", lembra.
Conforme Adriana, o ideal é que alguém adote o cachorro. "Tem gente que vai no velório e não gosta, acha ruim e fica colocando ele pra fora", diz.
O cachorro Negão, como é chamado pelos funcionários da Ossel, é dócil e gosta de carinho, aliás, até chega a erguer a patinha pedindo carinho. Se alguém lhe dá atenção, logo ele fica de barriga pra cima, fazendo charme. A expressão é triste e sempre que vê pessoas, faz questão de ficar por perto.
Cristina Aparecida Moreira, que faz serviços gerais no local, afirma que Negão tem sido alimentado provisoriamente, mas nos últimos dias está comendo pouco, desde que começou a crescer uma pele vermelha por cima do globo ocular. Ela está preocupada, não sabe se ele tem sentido dor, e gostaria que algum veterinário pudesse ajudar. "Todos os dias quando vou embora ele me acompanha até o ponto de ônibus, mas depois volta pra cá", observa ela.
Para Cristina, Negão é um protetor do local. "Ele virou um guardião da Ossel e não deixa que outros cachorros se aproximem", diz.
A empresária Marina Macedo conta que esteve em um velório na quarta-feira passada, foi quando viu o cachorro. "Ele estava no tapete. Foi assim que fiquei sabendo da história e fiquei comovida, por isso fiz um apelo no Facebook para que alguém o adote", afirma.
Perguntas sem resposta
Como ninguém sabe ao certo se essa história do Negão é verdadeira, algumas perguntas ficam sem resposta, afinal como é que o cachorro foi parar no velório? Alguém teria levado? Ele teria seguido o carro da família? Mas por que a família não o levou de volta? Ou será que o dono morava ali perto e seria sozinho?
A veterinária Judith Suemi Oi Marangoni, proprietária da Nikkey Vet, não acredita que de fato o cachorro esteja no velório à espera do dono. "É claro que o cachorro tem essa lealdade, ele faz de tudo pelo dono e o protege, dependendo da relação que eles tinham. Quando o dono dá água, comida e carinho, o cachorro sente essa idolatração. Mas quando o dono só chuta é diferente. Se tem afeto entre os dois, acredito que exista esse laço, só que especificamente nesse caso, do cachorro ter velado o dono e que esteja ainda esperando, em um lugar onde é neutro para ele, eu não sei", diz.
Sobre a possibilidade do cachorro ter seguido o carro da família, isso de fato pode ocorrer. "O cachorro usa o faro, vai procurando o cheiro conhecido para ele. Já vi casos de pessoas que não queriam o cachorro e o largaram no lixão, mas no dia seguinte ele estava novamente em frente à casa, isso acontece porque ele perambula até sentir o cheiro familiar para ele, vai seguindo até chegar no destino."
No caso de Negão, Judith ainda tem outro argumento em que se baseia para considerar improvável que esteja ali pelo dono, se for considerado o faro do animal. "O corpo foi sepultado em outro lugar, então pode ser que esse cachorro tenha ido até lá pelo dono, mas não é por causa dele que permanece, afinal ele não tem nenhuma relação com aquele local, como é o caso do cachorro do filme. Acho que ele permanece ali no velório porque é um local que sempre tem muita gente e é onde ele pode ser amparado pelas pessoas."
Interessados em adotar o animal podem se dirigir à Ossel Central (rua Mascarenhas Camelo, 225). O cachorro costuma ficar na entrada de trás da funerária, na rua Miguel Giardini.
Fonte: jornal Cruzeiro do Sul
Fonte: jornal Cruzeiro do Sul
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