05/06/2013 | MUDANÇA DE POSTURA
O clima mudou, as chuvas estão mais intensas, e, se não houver uma infraestrutura verde, haverá mais enchentes, mais erosão e mais riscos ambientais
Notícia publicada na edição de 05/06/2013 do Jornal Cruzeiro do Sul, na página 005 do caderno E - o conteúdo da edição impressa na internet é atualizado diariamente após as 12h.
Samira Galli
samira.galli@jcruzeiro.com.br
Os fragmentos da cobertura vegetal em Sorocaba somam apenas 0,63% de mata primária, quando o ideal seria, pelo menos, 20% de área preservada. Os dados, da Secretaria do Meio Ambiente (Sema), confirmam que o desenvolvimento da cidade cobrou um alto preço da Mata Atlântica e do Cerrado aqui existentes. "O que vivemos hoje é o resultado de vários ciclos históricos e de mais de 360 anos de ocupação", afirma o diretor de gestão ambiental da Sema, Vidal Dias Mota Junior.
A tropeada, o ciclo da ferrovia, a metalurgia e a industrialização foram os principais responsáveis pelo desmatamento, no ponto de vista de Mota. "Todas essas atividades são de impacto ambiental. No ciclo dos tropeiros, era necessário pastagem para alimentar toda a tropa que vinha do sul. Com a ferrovia, as florestas forneciam a madeira para a construção de dormentes. E depois vieram as indústrias. A história do desenvolvimento de Sorocaba é uma história de degradação da Mata Atlântica. Hoje, Sorocaba está pelada", declara.
Para o ambientalista, botânico e associado à Sociedade Brasileira de Arborização Urbana, Demis Lima, a especulação imobiliária vivida atualmente em Sorocaba também influencia muito, e fecha os ciclos de degradação. Segundo ele, apesar da legislação atual prever um projeto de arborização aos empreendimentos, a agressão ainda é muito grande. "Já vi áreas que seriam transformadas em loteamentos com estranhos aterros. Quando fui ver, já haviam cortado as árvores e enterrado os tocos dos troncos ali mesmo. Há muita pressão de todos os lados para autorizar as obras, custe o que custar", diz.
De acordo com diretor da Sema, Sorocaba hoje precisa se adaptar às mudanças climáticas em decorrência do processo histórico que viveu. O clima mudou, as chuvas estão mais intensas, e, se não houver uma infraestrutura verde, haverá mais enchentes, mais erosão e mais riscos ambientais, conforme explica Mota. "A consciência ambiental mudou. As pessoas hoje tem essa percepção e isso é fundamental ao processo de recuperação", destaca.
Para reverter toda a perda de vegetação causada pelo processo histórico, o esforço de recuperação é um dos principais objetivos da Sema. Plantios de mudas em avenidas, nascentes e margens de rios e córregos, além de produção e doação de mudas para a população estão entre as ações do Plano de Arborização. Uma das metas do plano é o plantio de 900 mil mudas até 2020. Mais de 530 mil já foram plantadas até hoje nos megaplantios, plantios em avenidas e ações educativas.
Parte desta quantidade - 20 mil - foi plantada devido a passivos de compensação ambiental que a Prefeitura foi obrigada a cumprir. "O passivo era de 20 mil e já plantamos mais de 530 mil. Então não se trata de uma ação, mas sim de uma ação proativa. O importante é manter esse processo regular de arborização", informa Welber Smith, diretor de educação ambiental da Sema.
Trabalho lento
Por lei, quem cortar uma árvore exótica (que não pertence à flora da região) deve fazer a compensação plantando três mudas. Para árvores nativas, o número aumenta para 25. Mesmo assim, a perda não é recuperada. Pelo menos não a curto prazo. O botânico Lima explica que o plantio de mudas não é suficiente para recuperar a biomassa perdida em árvores já adultas. "Algumas espécies cortadas são de madeira mais densa. E, quanto mais densa a madeira, mais ela demora para crescer. Árvores de quase 100 anos são cortadas para que pequenas mudas, com densidade mole, ocupem o lugar", defende. Para que o resultado da compensação comece a recuperar uma área devastada, demora mais de 10 ou 20 anos, no mínimo.
Para Lima, a falta de investimento em arborização de calçada é um dos principais pontos que devem ser discutidos atualmente. O botânico critica que há muito pedido de corte de árvore de calçada e pouca procura por plantio."Ao andar pelas ruas de Sorocaba, a gente vê um grande cemitério, devido à quantidade de tocos de árvores nas calçadas."
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