Parte das pessoas que abandona leite alega riscos à saúde; médicos contestam



Incrível e absurdo que o Conselho Regional de Nutricionistas da 3ª Região (São Paulo e Mato Grosso do Sul), proiba a restrição de leite em dietas sob pena de processo disciplinar.


É perfeitamente possível ter dieta equilibrada sem o uso do leite. (Instituto Cahon)

Segue matéria publicada em 23/07/2013 no Folha:




O leite de vaca pasteurizado ainda mantém o posto de alimento ingerido em maior quantidade pelas famílias brasileiras, mas é fato que o consumo da bebida já não é tão grande como no passado.
Segundo o IBGE, esse consumo caiu cerca de 40% nos últimos 30 anos no país.
Nos Estados Unidos se observa a mesma tendência. O Departamento de Agricultura do país aponta que tanto a quantidade como a frequência do consumo de leite caíram desde a década de 70.
Uma das explicações do órgão americano para a queda é a oferta cada vez maior de outras bebidas, como isotônicos e águas "vitaminadas".
No Brasil, a explicação está na diversificação da alimentação nas últimas décadas, o que reduziu o consumo de produtos tradicionais como leite, arroz e feijão, e aumentou a ingestão de iogurte, refrigerante e outros alimentos industrializados.
A intolerância à lactose, distúrbio que tem se tornado cada vez mais diagnosticado e comum no mundo, é outro motivo para a menor presença do leite nas dietas.
Mas há ainda quem acredite em uma associação do consumo da bebida ao aumento no risco de doenças como problemas intestinais, inflamações e até câncer e transtornos como autismo.
É o caso da filósofa Sônia Felipe, que lançou no ano passado o livro "Galactolatria - Mau deleite", no qual aborda os supostos males causados pela bebida.
"Todos os motivos para abolir o leite concorrem para a sua desmitificação como alimento saudável, indispensável ou louvável. Ele não é nada disso", afirma.
Ela conta que estuda o assunto há 13 anos, desde seu pós-doutorado em bioética e ética animal na Universidade de Lisboa "Meu interesse se fortaleceu por conta da decisão ética de eliminar da dieta todos os produtos derivados de sofrimento animal."
Os tais malefícios do leite, porém, são contestados por especialistas. Wagner Gattaz, professor de psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP, refuta a associação do leite com doenças mentais.
Ele lembra de um estudo publicado no "Schizophrenia Research" que aponta que antígenos do leite podem causar um desequilíbrio metabólico no cérebro de pessoas com esquizofrenia.
"Mas não há evidências de que o leite agrave a psicose. Provavelmente são achados sem significado clínico."
Ana Carolina Cantelli, nutricionista oncológica do A.C.Camargo Cancer Center, diz que os estudos ligando o leite ao risco de câncer são controversos."Há pesquisas mostrando que a caseína [proteína do leite] pode até proteger contra câncer de cólon. Não dá para bater o martelo."
O nutrólogo Celso Cukier engrossa o coro sobre a falta de evidências contra o leite. "Leite integral em excesso significa gordura em excesso e pode elevar o risco de doença arterial ou renal. Fora isso, quem não tem alergia ou intolerância pode consumir leite como um complemento rico em nutrientes e cálcio."
Recomendar restrição ao consumo do leite de origem animal para quem não tem alergia ou intolerância, aliás, é proibido pelo Conselho Regional de Nutricionistas da 3ª Região (São Paulo e Mato Grosso do Sul), sob pena de processo disciplinar.
Adriane Antunes, nutricionista, professora da Unicamp e autora do livro "Leite para Adultos - mitos e fatos frente a ciência", afirma que as principais consequências negativas de uma dieta pobre em cálcio são relacionadas à saúde dos ossos e dentes e ao aumento da pressão arterial.
"De qualquer forma, é possível ter uma dieta equilibrada sem laticínios."

MARIANA VERSOLATO
EDITORA-ASSISTENTE DE "CIÊNCIA+SAÚDE"

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