Derretimento do Ártico custa US$ 60 trilhões ao planeta

A emissão de gás metano pelo derretimento do solo congelado no Ártico vai acelerar a mudança climática e trará um prejuízo global de U$ 60 trilhões até 2100.
Mais de 80% dos danos, dizem os autores da estimativa, serão em países pobres, longe dos ursos polares.
Esses números são os valores médios de uma simulação feita por cientistas da Holanda e do Reino Unido, apresentada na revista "Nature".


Para entrelaçar economia e ambiente, os cientistas usaram um método similar ao do relatório Stern, o modelo mais completo já feito sobre o impacto financeiro do aquecimento global, bancado pelo governo britânico em 2006.
O pesquisadores incluíram na nova simulação as consequências da liberação de metano do permafrost (solo permanentemente congelado) da Sibéria. Esse gás deve acelerar o aquecimento global e contribuirá para piorá-lo.
Segundo os cientistas, a emissão de 50 bilhões de toneladas de metano aprisionados na região causaria um aumento de 15% no impacto financeiro descrito no relatório Stern, que estimava em US$ 400 trilhões a perda econômica gerada pelo aquecimento até 2100.
BOMBA-RELÓGIO
"Isso é uma bomba-relógio econômica que não vem sendo sendo reconhecida atualmente no plano mundial", diz Gail Whiteman, da Universidade Erasmus, de Roterdã, líder do trabalho.
A pesquisadora afirma que adiantou a liberação dos dados de seu estudo porque o aquecimento do Ártico vinha sendo discutido em clima de otimismo por países boreais.


Como 30% das reservas não mapeadas de gás e 13% das de petróleo estão lá, a seguradora Lloyd's of London estima que o investimento na região possa atingir US$ 100 bilhões nos próximos dez anos.
E a exploração do Ártico será facilitada pelo derretimento do gelo em si, que abre rotas de navegação e barateia o transporte.
O retorno do capital, porém, precisaria ser três ordens de magnitude maior para compensar os danos globais. E os países que teriam algum lucro não são os mais ameaçados pela mudança climática, que afetará terras agricultáveis tropicais. "Por isso queremos levar essa discussão ao Fórum Econômico Mundial", diz Whiteman.
Segundo os cientistas, há pouca esperança de evitar a liberação do metano siberiano, mesmo que as emissões de CO2 sejam reduzidas.
Os cenários com os quais os pesquisadores trabalham variam entre uma liberação em dez anos até uma em trinta anos, mas o impacto econômico acumulado seria quase o mesmo.
A única opção regional de medida paliativa é controlar a circulação de navios e a exploração de petróleo para evitar a emissão de carbono negro (forma de fuligem), que faz o gelo absorver radiação.
Os cientistas reconhecem, porém, que o estudo ainda é muito impreciso. Mas isso também não é boa notícia."No escopo da simulação, há 5% de chance de que o prejuízo seja de 'apenas' US$ 10 trilhões, mas há 5% de risco de que o impacto seja de US$ 220 trilhões", diz Chris Hope, da Universidade de Cambridge, coautor do trabalho.

Fonte: Folha de S.P

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