O rio Sorocaba tem sofrido agressões constantes de pessoas que atiram copos plásticos e garrafas pet, entre outros objetos, em suas águas e margens
Notícia publicada na edição de 23/03/2012 do Jornal Cruzeiro do Sul, na página 3 do caderno A
A falta de consciência ecológica - ou seja lá qual for o nome que se dê aos atos de vandalismo cometidos contra o meio ambiente - assumiu contornos dramáticos na quarta-feira, véspera do Dia Mundial da Água, quando um morador de rua, sem motivo aparente, matou a golpes de ferro um jacaré do papo amarelo que vivia no rio Sorocaba, e que já se tornara figura habitual entre os frequentadores do Parque das Águas, na região do Jardim Abaeté.
O dia de ontem deveria ter sido festivo para a região, que há anos se empenha por livrar seu principal rio da poluição por esgotos domésticos e outros efluentes, e hoje está perto de alcançar essa meta. Um painel abrangente da despoluição, no âmbito regional, foi apresentado ontem aos leitores do Cruzeiro do Sul ("Dia Mundial da Água - Saiba como a região está se mobilizando para ter um rio 100% despoluído", págs. 6 e 7).
A explosão gratuita de violência que ocasionou a morte do jacaré veio mostrar que é preciso conter o otimismo. Tudo o que foi feito na última década para reabilitar o rio; a alegria sincera de milhares de sorocabanos por ver que o Sorocaba voltou a ser um santuário para dezenas de espécies de peixes, aves, répteis e mamíferos não anula o fato de que existe uma lacuna grave nesse setor, causada pela falta de educação e sensibilidade de parte da população para as questões ambientais.
Pode-se, evidentemente, tentar minimizar o caso e tratá-lo como fato isolado. Para o orgulho dos sorocabanos, que acaba de ser afagado com uma participação no 6º Fórum Mundial das Águas, na França, a agressão brutal contra um animal em extinção é mais fácil de digerir quando praticada por um despossuído, alguém que provavelmente não teve acesso à escola e que - segundo o registro policial - estaria embriagado quando atacou o jacaré a golpes de cano.
É uma saída cômoda, porém enganosa, já que o gesto do morador de rua, embora sem paralelos em sua selvageria, reflete uma atitude corriqueira de muitos moradores da cidade. O rio Sorocaba tem sofrido agressões constantes de pessoas que atiram copos plásticos e garrafas pet, entre outros objetos, em suas águas e margens. Ainda recentemente, alertamos nesta coluna para o péssimo costume de alguns motoristas e passageiros que jogam latas e garrafas de cerveja na ciclovia da avenida Dom Aguirre, ao passar de carro por lá ("Falta de civilidade", 3/3).
O jacaré que era um símbolo da nova fase do rio Sorocaba, e cuja morte provocou comoção entre os munícipes que se sentem gratificados por ter perto de si um rio cheio de vida e de paisagens que enchem os olhos, poderia ter morrido pela ingestão de um caco de vidro ou pedaço de plástico, materiais letais para inúmeras espécies, que ainda são encontrados em grande quantidade nas margens. Há poucos meses, uma poltrona podia ser vista entre as pedras de um trecho raso, próximo à ponte Francisco Dellosso, centro da cidade.
Tudo isso demonstra, claramente, que existe um trabalho a fazer, talvez bem mais difícil e demorado que a própria despoluição, e que consiste em mudar pensamentos e atitudes de pessoas ainda insensíveis à importância das águas, do ar, dos bichos, das plantas. É uma tarefa desafiadora, posto que complexa e de difícil execução. Inútil tentar realizá-la com cartazes e apelos, ou com ameaças de multas e novas leis. Mudanças nesse nível exigem grandes mobilizações comunitárias, em que as pessoas que admiram o rio e se importam com o meio ambiente sejam estimuladas a assumir o compromisso de educar e sensibilizar outras pessoas. Isso pode ser feito, e precisa ser tentado. Matéria-prima -amor pelo rio - não faltará.
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Um dia triste para o rio
07:51
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