As chuvas e o lixo


Uma das atividades do Instituto Cahon é promover educação ambiental e tentar fazer com que pessoas de todas as idades entendam como é importante preservar, cuidar e zelar pelo maior patrimônio que temos que é o meio ambiente. É um trabalho que tem resultados lentos, porém existe. O povo brasileiro continua tendo o péssimo hábito de jogar lixo nas ruas, mesmo quando existe lixeiras por perto, esse comportamento precisa mudar urgentemente, não é possível suportar atos tão irresponsáveis em pleno sec.XXI, todos devem ser fiscais do meio ambiente, por uma cidade mais saudável e bonita. Instituto Cahon.
Lixo deixado pelos fiéis durante romaria de Aparecidinha em 2012
Foto de Y.Sousa- Arquivo Cahon

Segundo o Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae), uma absurda média de 12 mil quilos de lixo diários são retirados dos bueiros e bocas de lobo de Sorocaba

Notícia publicada na edição de 08/01/2013 do Jornal Cruzeiro do Sul, na página 2 do caderno A

* Sandro Donnini Mancini

Todo janeiro é sempre igual. Chuvas mais intensas chegam e a população de várias cidades fica apreensiva. Afinal a força das águas acaba trazendo uma série de tragédias. Deveria trazer também ensinamentos para que problemas não se repitam, mas isso não ocorre.

Uma coisa diferente está ocupando os noticiários sobre as enchentes desse ano, embora ainda não da forma contundente como o problema merece. É a associação entre o lixo não recolhido e as inundações. Na cidade de Duque de Caxias, a desgraça foi a maior do país por enquanto, sendo que até um ilustre habitante do distrito de Xerém, Zeca Pagodinho, saiu em auxílio às vítimas. A cidade está há três meses sem coleta regular de lixo. Quando as chuvas chegaram, o lixo dificultou o fluxo da água, entupiu galerias e assoreou o rio Capivari, que encheu, levando lama, muita água, lixo e o pânico para muitos. 

A direta relação do lixo com transmissores de doenças complica ainda mais a situação. O prefeito novo de Duque de Caxias culpa o ex-prefeito, que não realizou pagamentos necessários à empresa responsável pela coleta e causando o acúmulo de 50 mil quilos de lixo nas ruas da cidade. Verdade seja dita, o prefeito novo tinha assumido somente há três dias quando as chuvas mais fortes começaram. Já o prefeito antigo vem sendo investigado por suspeita de desvio de verba da saúde. Não dava para esperar coisa melhor.

Sorocaba também é uma cidade que sofre com problemas relacionados a inundações e enchentes. O Cruzeiro do Sul, em sua manchete no último domingo (6/1/2013), informou que a cidade possui 157 pontos com risco de inundação e alagamentos. Em Sorocaba há coleta regular de lixo e em toda a cidade os contêineres diminuem a exposição do lixo à chuva que eventualmente chegar antes da coleta. Só que o problema não é só esse: há ainda a sujeira que fica nas ruas, natural ou não, inevitável ou não e que, por gravidade, vento, chuva ou até mesmo intencionalmente é arrastada para as bocas de lobo e bueiros da cidade.

Segundo o Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae), uma absurda média de 12 mil quilos de lixo diários são retirados dos bueiros e bocas de lobo de Sorocaba. Equipes da autarquia saem diariamente às ruas para limpezas preventivas e corretivas, trabalho que muitas vezes é manual e demorado. Tudo isso é necessário para deixar os bueiros livres, dificultando entupimentos (que podem causar transtornos locais) ou o arraste da sujeira para as galerias de águas pluviais e destas para o já judiado rio Sorocaba. Caso não seja feito esse trabalho, o rio fica a cada dia mais raso, ou seja, mais fácil de inundar.

Uma pesquisa feita pela Unesp, com apoio da Fatec e Uniso, buscou ""destrinchar"" que lixo é esse que o Saae retira todos os dias dos bueiros e bocas de lobo de Sorocaba, ou seja, o lixo que não foi varrido. Ao manusear esses resíduos, a ideia da equipe de alunos e professores foi separá-los no que podia ser considerado natural (como folhas de árvores) e aquele resíduo produzido por algum sorocabano que, por razões que não se entende, teve a pachorra de descartá-lo no chão ao invés de procurar uma lixeira. Quando não havia a possibilidade de determinar se a procedência do resíduo era natural ou humana, como era o caso de sedimentos de solo (terra ou areia), estes foram classificados como naturais. Amostras de todos os resíduos foram trazidas para laboratório para secagem em estufa, para a determinação da umidade presente.

Em linhas gerais os principais resultados foram os seguintes: 24,3% da massa dos resíduos corresponde à umidade, ou seja, dos 12 mil quilos que o Saae retira diariamente dos bueiros e bocas de lobo de Sorocaba, ""só"" 9 mil quilos são resíduos sólidos. Cerca de 6.300 quilos diários são de terra/areia que, somados à rochas e matéria-orgânica (folhas de árvores, por exemplo) foram classificados como naturais. Porém, para um total de 2 mil quilos diários de resíduos não é possível colocar a culpa na natureza. São sacolas, garrafas, latas e outras embalagens, além de materiais de construção civil, preservativos, roupas, sapatos, remédios, seringas etc.

Caso resíduos desse tipo não sejam varridos ou recolhidos pelo Saae, como certamente parte não é, vão entupir bocas de lobo ou parar no fundo do rio Sorocaba, ou ainda, boiar tranquilamente em suas águas. Coisa de gente sem noção de limpeza nenhuma, que envergonha os restantes e complica a vida de todos.

* Sandro Donnini Mancini (www.sorocaba.unesp.br/professor/mancini ; mancini@sorocaba.unesp.br) é professor da Unesp de Sorocaba (www.sorocaba.unesp.br) para os cursos de graduação em Engenharia Ambiental, Mestrado e Doutorado em Ciência e Tecnologia de Materiais e Mestrado em Engenharia Civil e Ambiental. Escreve a cada duas semanas, às terças-feiras, neste espaço.

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