'Compartilhar na rede não é ativismo'


No Brasil para gravar um documentário, Céline Cousteau mantém projeto que usa vídeos como 'megafone' para ações ambientais pouco divulgadas


Em seu primeiro projeto no País, ela inicia um documentário no Vale do Javari, no extremo oeste do Amazonas, para denunciar o descaso com a saúde de tribos indígenas da região - em alguns locais, 80% dos adultos e 15% das crianças têm hepatite. Além disso, criou o CauseCentric Productions, um projeto que cria vídeos curtos para dar visibilidade a causas ambientais com pouca expressão na mídia tradicional.
Como seus vídeos podem ajudar nas causas ambientais?
O ser humano é muito visual e hoje muitas pessoas passam boa parte do dia em frente a telas. Quem consome vídeos na internet quer principalmente entretenimento, e temos o desafio de capturá-los. Meu conteúdo talvez não seja de entretenimento, pois são coisas sérias, mas também tenho de fazer algo atrativo. No tempo em que meu avô fazias seus filmes, não era comum ver a vida subaquática na tela de televisão. Mas muitos passaram a viajar e sonhar com peixes e baleias a partir dali, porque de outra forma dificilmente os veriam. Então eu tento contar histórias de uma forma que possamos nos conectar visualmente com as pessoas.
Que efeito prático se busca?
O principal é amplificar as histórias. A proposta é servir de megafone para a voz das pessoas que estão propondo coisas boas, pois são elas que merecem atenção. Não tenho a pretensão de resolver todos os problemas com isso, mas ofereço um veículo de informação que pode servir, por exemplo, para educar as crianças e pressionar governos para que façam seu trabalho.
Como evitar que isso se resuma ao chamado 'ativismo de sofá'?
Apesar de tudo o que se compartilha nas redes sociais, é muito difícil ver o que é feito de fato (por essas pessoas). A pessoa pode ler um artigo e se sentir mal ou inspirada, mas qual a ação? A ideia do site é apresentar onde se pode buscar causas e apoiá-las. Em cada história há a opção de apoiar diretamente na origem, seja por meio de doação ou trabalho voluntário. É preciso prender a atenção e, quando essas pessoas estiverem sensibilizadas, é preciso dar a opção de fazer algo.
Como surgiu o projeto de documentário no Vale do Javari?
Em 2007, estava fazendo documentário sobre índios que vivem na Amazônia peruana e brasileira quando fui convidada para uma conferência indígena local, em que descobri que 80% dos índios da região têm hepatite. Eles próprios pediram que essa situação fosse contada e compartilhada, pois torná-la conhecida é uma forma de protegê-los. Por isso, não quero que seja apenas um documentário. Vamos transformar esse assunto também em material educativo para as crianças, que seja usado em escolas.
Como será produzido?
Vou para Atalaia do Norte fazer as primeiras entrevistas e gravar um trailer para, então, iniciar a captação de recursos. Normalmente estaria acompanhada do meu marido, que é cinegrafista, mas ele ficou em casa (na França) cuidando do nosso filho Felix, de 14 meses. Ainda está cedo para ele encarar uma aventura dessas. 

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