Até 40% dos animais abrigados enfrentam rejeição na hora da adoção


Matéria publicada no Jornal Folha de SP em 06/05/2012, revela como é difícil lidar com o preconceito na hora de tentar doar um animalzinho SRD (sem raça definida) ou um animal deficiente). Leia o artigo:

Ele tem um quê de chow-chow, a robusta raça de origem chinesa. Hoje, está com os pelos brilhando. É brincalhão. Apesar de seu porte, é considerado jovem: tem apenas três anos de idade.


Quatro meses atrás, esse SRD (sem raça definida) vivia pelas ruas de São Mateus, na zona leste de São Paulo, sabe-se lá como. Desde que chegou ao abrigo da Aila (Aliança Internacional do Animal), faz semanalmente sessões de acupuntura e fisioterapia.

Em breve, deve se submeter a uma cirurgia. Da cintura para baixo, Alê não se move. Ele faz parte de uma lista de animais que não se enquadram na categoria "fofinho". São bichos idosos, portadores de alguma doença crônica ou vítimas de mutilações e preconceito humano.

Como sofrem rejeição na hora da adoção, nem chegam a participar das feirinhas, para evitar uma "versão moderna dos 'freak shows' [shows de horrores]", nas palavras de Marta Giraldes, 44, vice-presidente da Aila.

"Essa população pet", continua ela, "é uma espécie de 'excluídos dos excluídos'". "Quase ninguém quer saber deles. Quiçá ficar com eles."

Essa turma não é pequena. Segundo estimativas de dez ONGs de proteção, entre 30% e 40% dos bichos que vivem em abrigos na Grande São Paulo se enquadram nesse perfil, o que representa pelo menos 2.000 animais.

"O que as pessoas veem nas vitrines dos pet shops? Bichinhos bonitinhos, pequenininhos, branquinhos, peludinhos", conta Luiz Scalea, 44, gerente-administrativo da Apasfa (Associação de Proteção dos Animais São Francisco de Assis). "A gente trabalha com os que são descartados pela população.
Ao todo, a entidade está com cerca de 250 animais espalhados por abrigos, quase 40% deles são "indoáveis", segundo Scalea.
SOBREVIVENTES

Existe outro grupo especial de "indoáveis". E a médica Patrícia de Arruda Cancellara, 41, o conhece bem.

Há 13 anos, ela só trabalha com um perfil delicado de "excluídos": os pit bulls.

A entidade dela, a Pit Cão, abriga hoje cerca de 260 cães entre filas, rottweilers e "vira-latas pretinhos, velhinhos, ceguinhos, que ninguém quer", diz Patrícia. E, é claro, pit bulls -a maioria deles.

Ela calcula que 99% desses animais tenham sido vítimas de algum tipo de crueldade. Um deles é Lanza, mestiço de pit bull com boxer.

Há cerca de um ano e meio, ele foi resgatado por Patrícia das ruas da periferia de Guarulhos. Quando a médica o encontrou, estava quase morto. "Ele tinha vários machucados profundos no focinho." Contaram cerca de 2.000 larvas na face do cão. Ele passou por uma série de cirurgias complicadíssimas. Permaneceu seis meses internado.

"Existe muito preconceito contra os pit bulls", diz Patrícia. "O homem os incitou à violência", conta. "Muita gente, quando se depara com um deles pela rua, quer de qualquer forma maltratá-lo."população."

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