Porto de Eike causou salinização de água doce, confirmam autoridades


VENCESLAU BORLINA FILHO
DO RIO
As autoridades ambientais do Estado do Rio de Janeiro confirmaram nesta quarta-feira (16) que as obras de construção do porto do Açu, da empresa LLX, do empresário Eike Batista, causaram a salinização da água doce usado por agricultores de São João da Barra (RJ).
Agricultor mostra abacaxis danificados
de sua plantação; eles acusam a obra
de porto de Eike Batista de causar
o processo de sanilização
Segundo a presidente do Inea (Instituto Estadual do Ambiente), Marilene Ramos, o problema ocorreu após o transbordamento da água salgada do sistema de drenagem da dragagem do porto. A água, que deveria voltar para o mar, atingiu reservatórios de água doce.

O canal mais atingido foi o Quintingute. Principal fonte de abastecimento dos agricultores locais, ele foi caracterizado como de água doce pelo estudo de impacto ambiental, mas atualmente tem 2,1 de salinidade --o adequado para irrigação é de, no máximo, 0,14.

Porto de Eike salgou região no Rio


Agricultor mostra plantação de quiabo
morta devido ao processo de salinização
em São João da Barra (RJ)
Ramos diz que o transbordamento já foi corrigido com um novo sistema de drenagem mas agora restam as análises das águas subterrâneas. O objetivo é identificar se elas foram contaminadas pela água salgada do processo de dragagem do porto.

O secretário estadual do Ambiente do Rio, Carlos Minc, disse que será divulgado na próxima semana as ações que a LLX deverá executar para correção dos danos. Minc garantiu, porém, que o problema não vai interromper as obras do porto.

Segundo Marilene, a empresa deverá dobrar, para 16, a quantidade de poços de monitoramento do local para identificar a extensão da possível contaminação das águas subterrâneas. Ela disse ainda que "certamente" haverá alguma multa, só não sabe de quanto.

OUTRO LADO

A LLX informou, por meio de nota, que monitora os níveis de salinidade em mais de 40 pontos da área de influência do porto do Açu --de acordo com as exigências do licenciamento-- e que o monitoramento dos canais utilizados para irrigação não apresentaram indicação de alteração da atividade agrícola.

Segundo a empresa, o monitoramento é feito por meio de convênios com universidades como a UFRRJ (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro).

Na nota, a LLX diz que firmou parceria com universidades e especialistas em meio ambiente do Rio de Janeiro, de São Paulo e dos Estados Unidos para ampliar o monitoramento na área de influência do empreendimento e apresentou o plano de ampliação da malha amostral desse monitoramento para análise do órgão ambiental responsável.

"A LLX reafirma seu compromisso com a adoção das melhores práticas na construção de seus empreendimentos, com foco no desenvolvimento sustentável, e mantém o diálogo com os órgãos competentes para implementar quaisquer medidas preventivas que se façam necessárias", informou a empresa, na nota.

A DENÚNCIA

A denúncia de salinização do local foi feita por pesquisadores da Uenf (Universidade do Norte Fluminense). No estudo divulgado, eles afirmara que, se nada for feito, um processo de desertificação da região poderá ser iniciado.

Essa é a primeira consequência ambiental direta detectada após o início das obras no empreendimento. Os Ministérios Públicos Federal e Estadual instauraram inquérito para apurar o caso.

A dragagem é feita para aumentar a profundidade do mar e do canal aberto pela empresa, a fim de permitir o acesso de grandes navios. A licença ambiental emitida permite a retirada de 65,2 bilhões de litros de areia do mar --31 bilhões já foram depositados em solo.

PLANTAÇÃO QUEIMADA

Os primeiros sinais do problema foram identificados no fim de outubro de 2012, quando o agricultor João Roberto de Almeida, 50, o Pinduca, viu parte de sua plantação de abacaxi nascer queimada. "Sempre usei essa água e nunca tive problemas. Não sou contra o desenvolvimento, mas o que está acontecendo é desrespeito", disse à Folha em dezembro.

Na época, o diretor de sustentabilidade da LLX, Paulo Monteiro, afirmou que a salinização das águas da região próxima ao porto antecederia as obras no local. Mas afirmou estar aberto a receber informações sobre eventuais problemas causados pela intervenção.

Ele chegou a dizer que a construção do porto tinha um sistema de drenagem que impedia o vazamento de água do mar para o exterior do empreendimento. O contrário foi detectado pelas autoridades ambientais do Estado.

"A água com areia retorna ao mar por canais de drenagem. Não vai para o lado do [canal do] Quitingute. Tudo foi calculado para jogar a água para o canal interligado com o mar", afirmou Monteiro à Folha, na época.

fonte: Folha SP

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