Xangai e o caso dos porcos flutuantes



Com severa poluição do ar, da água e do solo, os chineses vivem imersos em uma sucessão de escândalos ambientais e de saúde pública. Ainda assim, a imagem de 3.300 porcos em decomposição no rio que corta a maior cidade do país é candidata às páginas de realismo fantástico de Mo Yan, o escritor que venceu o Prêmio Nobel de Literatura no ano passado.
Os corpos dos animais começaram a aparecer na sexta-feira no Huangpu, em um trecho que está a 70 km de um dos principais cartões postais do país, no qual o rio separa o Bund, na antiga de Xangai, do despudoradamente iluminado centro financeiro de Pudong.
O rio é uma das principais fontes de água para os 23 milhões de habitantes da cidade, que enfrentam o óbvio temor de contaminação. “Nós temos que agir rapidamente para remover todos [os porcos] em razão do risco de poluição da água”, disse Xu Rong, responsável pela área ambiental do distrito de Songjiang, que concentra as operações de retirada dos animais do rio. “Por enquanto, a qualidade da água não foi afetada, mas temos que remover os porcos o mais rapidamente possível para que seus corpos não apodreçam na água.”
Ainda não se sabe o que matou os animais nem como seus corpos foram despejados no rio. A hipótese mais provável é que tenham sido vítimas de alguma doença comum na imensa população suína do país, que soma 470 milhões de animais, a maior do mundo.
Teste realizado em amostra da água do Huangpu indicou a presença de circovírus porcino, um vírus que é inofensivo para os humanos. Autoridades de Xangai disseram que estão realizando testes frequentes na água utilizada na cidade, para detectar a eventuais ameaças à saúde pública.
Reportagens veiculadas no início de março em jornais da província de Zhejiang, vizinha de Xangai, registraram a morte de milhares de porcos desde o início do ano. Em uma só localidade, 10 mil animais haviam morrido em janeiro e outros 8.300 em fevereiro. “Mais de 300 porcos morrem a cada dia em nossa vila e nós quase não temos espaço para nos desfazer dos porcos mortos”, disse um camponês de uma vila de Jianxing.
O caso dos porcos flutuantes é um dos principais tópicos de discussão no weibo, a versão chinesa do twitter, que é proibido no país. Alguns internautas usaram o tema para criar paródias do cartaz do filme The Life of Pi, o estrondoso sucesso do taiwanês Ang Lee. 

fonte: estadao.com.br/blogs

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