Designers britânicos usam lixo de SP para produzir móveis estilizados


WESLEY KLIMPEL
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Dois designers britânicos transformam latinhas de alumínio e óleo de cozinha, recolhidos por catadores de lixo em São Paulo, em móveis estilizados . O projeto "Can City" é uma parceria entre os ingleses Azusa Murakami e Alexander Groves, do Studio Swine, a galeria paulistana Amor de Madre, dirigido por Olívia Yassudo, e a marca de cerveja holandesa Heineken.

O mobiliário produzido está em exposição --e também à venda-- na galeria Coletivo Amor de Madre (zona oeste), até 30 de abril.
A equipe derrete as latas de alumínio em um barril de chope transformado em forno com cimento. E, para fazerem isso, aproveitam o óleo de cozinha --já sem uso-- de pequenos bares da região.

Além de mesas, bancos e cadeiras produzidos a partir do alumínio derretido, a equipe também confecciona luminárias com garrafas de vidro. "Nós focamos um conceito que não só dialogasse com a cidade, mas que realmente fosse possível de ser implementado dentro dos sistemas pré-existentes da capital", afirma Olívia Yassudo.

Entre 18 e 21 de março, a exposição estará no Design Days Dubai, feira internacional de design. A cervejaria Heineken patrocina o "Can City" e inaugurará, em abril, um bar dentro da galeria, com os móveis produzidos com o material reciclado.

Can City - Coletivo Amor de Madre - r. Estados Unidos, 2.174/2.186, Jardim América, zona oeste, São Paulo, SP. Tel.: 0/xx/11/3061-9384. Até 30/4. De seg. à sex.: 10h às 19h. Sáb.: 10h às 18h. Livre. GRÁTIS

Lâmpadas são produzidas a partir de garrafas de vidro
Para derreter o alumínio, os artistas reaproveitam óleo 
de cozinha usado em bares da região
Parceria entre galeria paulistana e designers britânicos cria mobiliário sustentável

Bancos produzidos com alumínio derretido de latinhas

ABAIXO, CONFIRA A ENTREVISTA COM OLÍVIA YASSUDO

são paulo - Como surgiu a parceria entre o Coletivo Amor de Madre e o Studio Swine?
Olívia Yassudo - Azusa e Alex passaram 3 meses no Brasil, entre novembro de 2011 e fevereiro de 2012. Nessa época pensamos em realizar um trabalho juntos, em que eles fariam uma residência com o Coletivo para desenvolver o trabalho deles aqui. Nós três focamos em trabalhar um conceito que não só dialogasse com a cidade, mas que realmente fosse possível de ser implementado dentro dos sistemas pré existentes da capital. Nos reencontramos em abril de 2012 e, digamos assim, refizemos os votos. A partir daí, já começamos a conversar via e-mail sobre como seria o projeto. Esse e muitos outros. Estamos focando em projetos que se utilizem de resíduos sólidos. Conseguir trazer atenção para o lixo de forma tão poética é o nosso interesse.

Como surgiu a ideia de utilizar latas e óleo de cozinha para produzir as peças?
O que nos levou a criar o "Can City" foram vários dados de São Paulo. A cidade, por exemplo, é conhecida por ser polo de reciclagem de alumínio, em que 80% dessa produção é recolhida por catadores de lixo. Paulista também adora um happy hour, com cerveja e frituras. As latas são recicladas, mas e a fritura? Pesquisando, descobrimos que todos os grandes restaurantes separam o óleo (uma das maiores fontes de poluição da água no mundo todo) que são recolhidos e em sua maioria transformados em bio combustivel. Apenas os pequenos botecos, ou autônomos, que "se viram" sozinhos para dar um destino para esse material. Com esse processo, mostramos que os catadores de lixo podem coletar o óleo também (eles só nao fazem pois não veem valor ainda) e poderiam usar a matéria prima para desenvolver produtos. Do outro lado, os pequenos comerciantes movem a economia, mas não entram no circuito das empresas de coleta por falta de informação.

Como tem sido a resposta e o envolvimento dos catadores de lixo?
Eles adoram. Alguns se interessam mais e outros menos, mas eles foram muito receptivos. Quem não fica feliz em ver seu trabalho reconhecido? A única coisa que preocupava alguns era a divulgação, pois a vizinhança dos pontos de coleta sempre reclama. Sei que ninguém quer ter o lixo do lado de casa, mas melhor do que ter dejetos na rua entrando em casa com as chuvas.

fonte: Folha SP

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