ONG resgata mais de cem cães caçados em ilha de Marajó, no PA


Depois de serem caçados, abandonados e enfrentarem quase duas semanas de fome no arquipélago do Marajó, no Pará, um grupo de 104 cães foi resgatado há cerca de 15 dias e levado às pressas a um abrigo de animais em Belém.
Os cães sobreviveram a uma caçada patrocinada pela Prefeitura de Santa Cruz do Arari, segundo investigação do Ministério Público. O objetivo da medida seria contribuir com a limpeza da cidade.
A prefeitura daria uma recompensa de R$ 5 a cada cachorro que "sumisse". O prêmio por cadelas era R$ 10.
Imagens de dezenas de animais capturados, amarrados e levados à zona rural da cidade ganharam destaque na imprensa local e nacional. O prefeito foi afastado do cargo, a pedido dos promotores.
Dezenas de cães, segundo os moradores, morreram afogados ou de fome. Os 104 sobreviventes, porém, conseguiram refúgio numa área de população ribeirinha e mata cerrada, a 6 km da área urbana.

ONG resgata cães em ilha de Marajó

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Tarso Sarraf/Folhapress
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Cães resgatados da ilha de Marajó recebem alimentação e cuidado adequado em abrigo de ONG em Belém (PA)
O resgate chegou duas semanas depois. Com a ajuda de um barco alugado, integrantes de uma ONG encontraram um cenário desolador de cães magricelos e com sinais de maus-tratos.
Na ilha, os animais ganharam um punhado emergencial de ração antes da viagem de 15 horas até a capital, onde foram vacinados, examinados e medicados.
"Os ribeirinhos são pobres e não tinham como alimentá-los. Eles iam todos morrer de fome", diz Raquel Viana, dona do abrigo em Belém.
Dos cães resgatados, um morreu e outros quatro seguem internados em clínicas veterinárias.
Entre os acolhidos, "Vovô" é quem mais precisa de cuidados. Quase cego e sem os dentes, precisa ser alimentado com líquidos diretamente na boca.
"Ele é um vovô, mas, quando pego ele pra dar comida, é o meu bebê", diz a engenheira civil Marilete Sampaio, que há seis anos largou a profissão para dedicar-se ao trabalho com animais.
Antes mantido exclusivamente com recursos próprios, o abrigo tem recebido doações após a repercussão do caso. Uma fabricante doou duas toneladas de ração.
O abrigo também recebeu medicamentos, produtos de limpeza e até jornais velhos, para forrar o local em que os animais estão abrigados.
PORQUINHO
Além dos cães a ONG também resgatou um porco, apelidado de "Ozzy" --referência ao roqueiro Ozzy Osbourne. O suíno também trazia ferimentos nas patas.
"Eu nunca imaginei como seria criar um porquinho, mas ele é tão fofo. É carinhoso, gosta de carinho na barriga. Não tem como não se apaixonar por ele", afirma Raquel, a dona do abrigo.
Ela ainda não sabe se "Ozzy" é macho ou fêmea nem como ele se juntou aos cães resgatados e embarcou.
A Prefeitura de Santa Cruz do Arari confirmou ter estimulado a população a levar os cachorros da zona urbana para a zona rural, mas informou que não pediu para que os animais fossem agredidos ou exterminados.


JONES SANTOS
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM BELÉM

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