Centenas de pessoas, incluindo dirigentes do governo e líderes tradicionais, foram verificar as paredes --erguidas no tradicional formato arredondado do norte nigeriano-- da construção.
As garrafas, preenchidas com areia, são colocadas lado a lado em fileiras, unidas com lama.
"Queria ver essa construção com meus próprios olhos. Fiquei surpreso ao saber que ela foi feita com garrafas plásticas", disse Nuhu Dangote, um comerciante que viajou da capital do Estado, Kaduna, para ver a casa. "O rumor que escutei é que parece mágica, que você fica maravilhado quando vê, por isso vim aqui. O mundo todo deveria ver isso."
A beleza maior da casa é seu muro externo, no qual o formato arredondado das garrafas produz um efeito inesperado.
Mas para os responsáveis pelo projeto, o maior mérito são os benefícios ambientais.
7.800 GARRAFAS
Em uma terra cedida por um empresário e ambientalista grego, estão sendo construídas 25 casas que vão ser postas para alugar. Cada uma, com quarto, sala, banheiro e cozinha, usará 7.800 garrafas plásticas.
A tecnologia de "garrafa-tijolo" começou há cerca de nove anos na Índia e na América Latina. Ela se mostrou eficiente em termos de custos e uma alternativa mais ecológica comparada aos tijolos convencionais.
Yahaya Ahmed, da Associação Nigeriana de Desenvolvimento para Energias Renováveis, calcula que uma casa feita de garrafas custa um terço do que custaria uma feita de concreto e tijolos.
XXX
"Areia compactada dentro de uma garrafa é quase 20 vezes mais resistente do que tijolos. Planejamos construir, inclusive, um prédio de três andares", disse ele.
As casas de areia são ainda uma boa alternativa para o clima quente da Nigéria, já que o material ajuda a manter as temperaturas mais baixas nos interiores.
Elas ainda são à prova de balas, o que pode ser um atrativo em partes menos seguras do norte do país.
As construções utilizam alicerces de concreto para garantir a estabilidade, e a areia é peneirada para que seja compactada.
"A peneiração remove as pedras que não passariam pela boca da garrafa", diz Dolly Ugorchi, treinado para este tipo de construção.
Mas alguns se dizem preocupados com a quantidade de areia usada nas novas casas.
"Meu medo é que este método de construção vai levar ao aumento do preço da areia", disse Mumuni Oladele, pedreiro na cidade de Lagos.
"No momento, as pessoas cavam em qualquer lugar por areia. Você pode imaginar o que vai acontecer quando a demanda por areia crescer para a construção de casas de garrafa."
ESCOLA
Segundo a empresa de pesquisa de mercado internacional Zenith, a maioria da água na Nigéria é vendida em pequenos sacos de plástico, mas o mercado para água engarrafada cresce e representa entre 20% e 25% das vendas, ou cerca de 500 milhões de litros por ano.
Isto significa que as garrafas plásticas são um artigo procurado no país, onde elas são usadas para armazenagem ou por vendedores de rua para comercializar produtos como amendoim.
As garrafas para as casas são fornecidas por restaurantes, hotéis, residências ou embaixadas estrangeiras.
O projeto espera também ajudar as crianças que não frequentam escolas a sair das ruas.
"Não quero ser um mendigo, quero trabalhar e ser pago. Por isso faço este trabalho", afirma Shehu Usman, 15, que faz casas de garrafa. "Quando crescer, quero construir uma casa de garrafas para mim."
Após a construção de 25 casas de garrafas, o próximo projeto da Associação Nigeriana de Desenvolvimento para Energias Renováveis é a construção de uma escola para as crianças de rua da região.
Fonte: Folha
0 comentários:
Postar um comentário