Estudo vê erros ambientais em setor elétrico do Brasil


FERNANDO MORAES

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Políticas energéticas mal planejadas e sob a influência de grupos econômicos nacionais e estrangeiros. Enorme quantidade de energia desperdiçada nas linhas de transmissão.
Necessidade de superar noções de usinas hidrelétricas como fonte de energia limpa, barata e renovável. Gigantesco potencial de energia eólica e solar menosprezado.
Essas são as principais conclusões de um estudo sobre o setor elétrico sob o prisma da sustentabilidade lançado ontem em São Paulo.

Elaborado por um coletivo de ONGs e membros da academia brasileira, os artigos trazem uma visão crítica sobre a política energética brasileira, amplamente baseada em grandes usinas hidrelétricas, e trazem propostas sobre alternativas para garantir o futuro energético do país.
"O estudo indica que é plenamente possível para o Brasil alcançar a segurança energética com uma vigorosa política de eficiência e de expansão da oferta a partir das fontes alternativas como a eólica, a biomassa (os resíduos agrícolas, particularmente o bagaço da cana-de-açúcar), a energia solar, e mesmo as pequenas centrais hidrelétricas, se os projetos considerarem de forma adequada as populações ribeirinhas atingidas", diz Célio Bermann, professor do Instituto de Energia Elétrica da USP e autor de um dos artigos.
Cerca de 77% da matriz elétrica brasileira é de fonte hidrelétrica e o governo planeja a construção de dezenas de grandes e pequenas hidrelétricas nos próximos anos na região amazônica.
Segundo o estudo, é enganosa a ideia que a energia hidrelétrica é uma fonte de energia limpa. No complexo Belo Monte/Babaquara, no rio Xingu, seriam necessários até 41 anos para se chegar a um saldo positivo em termos de emissões de gases de efeito estufa. Devido à flutuação no nível da água do rio, é esperada uma variação de 23 m no reservatório de Babaquara a cada ano. Quando atingir o nível mínimo, a vegetação herbácea, de fácil decomposição, cresceria rapidamente no reservatório. Quando o nível de água subisse, a vegetação decomposta produziria grandes quantidades de metano.
Um dos artigos do estudo trata das perdas de energia no sistema elétrico brasileiro. O Brasil atualmente desperdiça 15,4% de sua oferta total de energia.
Em comparação, o Chile tem perdas totais de 5,6%, o Peru de 9,3% e a Argentina de 9,9%. Segundo relatório do TCU, tal desperdício tem impacto direto na tarifa ao consumidor.
O ministério de Minas e Energia, por meio de sua assessoria, diz que as perdas de energia elétrica são elevadas devido a alta participação da energia hidráulica na matriz elétrica, às dimensões continentais do país e ao aumento da geração longe dos centros consumidores. Isso "impõe ao Brasil condições de distribuição de energia elétrica complexas e distintas dos demais países"
fonte: http://folha.com.br/

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