Terça, 18 de dezembro de 2012
Apesar de ainda ser um trabalho em andamento, o quinto relatório do IPCC apresenta dados preocupantes e aponta que a concentração de CO2 na atmosfera é a grande responsável pelo aquecimento global.
Quando o blog Watts Up With That divulgou, sem autorização, uma cópia do próximo relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, sua intenção era enfraquecer a entidade e toda a tese de que o aquecimento do planeta se deve às emissões de gases do efeito estufa resultantes das atividades humanas.
Foi um tiro no pé. Pois, apesar de o autor do blog, Alec Rawls, se esforçar para destacar alguns pontos que teoricamente dariam suporte para suas próprias teorias contrárias à participação do homem nas mudanças climáticas, uma análise mais calma do relatório mostra justamente o oposto: as evidências de que o clima está se transformando são inequívocas e é extremamente provável que isso seja culpa nossa.
Segundo o documento, as temperaturas médias globais vêm subindo desde o começo do século XX e esse aquecimento foi particularmente acelerado depois dos anos 1970. Cada uma das últimas três décadas foi significantemente mais quente do que todas as outras desde 1850.
A temperatura combinada da terra e do mar teria sofrido um aumento de 0,8°C no período de 1901 a 2010 e de cerca de 0,5°C entre 1979 e 2010.
“Existem evidências consistentes de que há um aumento na rede de energia do sistema terrestre graças a um desequilíbrio. É virtualmente certo que isso é causado por atividades humanas, fundamentalmente pelo aumento das concentrações de dióxido de carbono (CO2)”, afirma o relatório.
O IPCC aponta que o CO2 é a principal causa das mudanças climáticas, muito mais relevante para o aquecimento do que outros fatores naturais. A concentração atual de CO2 na atmosfera é a maior em 800 mil anos.
O documento identifica também que houve mudanças nos eventos climáticos extremos, mas salienta que o nível de confiança sobre o que mudou varia conforme o tipo de fenômeno e com a região onde ele ocorre.
Para a questão do aumento das chuvas intensas, por exemplo, as estatísticas apontam que existe um crescimento da sua frequência desde 1950. Porém, com relação às secas, é mais difícil observar uma tendência em longo prazo, devido às inconsistências geográficas.
O relatório registra ainda que os oceanos avançaram entre 2,8 mm e 3,6 mm ao ano desde 1993. A elevação pôde ser acompanhada nos últimos dois séculos, sendo que se acelerou depois de 1900.
“Desde 1970, o aquecimento e a expansão oceânica e o degelo foram os contribuintes dominantes do aumento do nível do mar, juntos explicando 80% do avanço observado”, afirma o relatório.
A previsão é de que o mar suba entre 0,29 metros e 0,82 metros até 2100.
O IPCC destaca que é grande a confiança nos modelos climáticos atuais e que eles conseguem simular com precisão os múltiplos cenários previstos. Vários aspectos climáticos, como precipitações em larga escala, comportamento do gelo do Ártico e temperaturas oceânicas, seriam bem representados nessas ferramentas.
Esse tipo de conclusão é possível graças a simulações realizadas que podem ser comparadas com dados reais. Por exemplo, cientistas conseguem realizar um experimento no qual um modelo recria a flutuação da temperatura terrestre nos últimos 50 anos e depois comparam os resultados com o que se sabe realmente ter acontecido.
“O ponto mais interessante do 'vazamento' do relatório é a revelação do quão grande é o sentimento de negação entre os céticos climáticos. Se eles são capazes de distorcer um documento da forma que fizeram, imagine como são malucas as interpretações que fazem das evidências científicas”, afirmou à rede ABC Steven Sherwood, pesquisador da Universidade de Nova Galês do Sul e membro do IPCC.
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