Praticada em pequenas áreas disponíveis dentro das cidades, a agricultura urbana recebe apoio de adeptos de uma vida mais saudável e sustentável. Quintais, terrenos e até canteiros em terraços de prédios podem ser utilizados para o plantio de espécies que não exigem muito espaço, em geral, hortaliças e frutas. Destinam-se ao consumo próprio de quem planta ou para a venda em pequena escala. O lucro não é o mais importante para quem cultiva na cidade. Vale o contato com a terra e o prazer de tirar o alimento de lugares que nada produziriam se ficassem intocados.
No canteiro central da avenida Santa Cruz, em Sorocaba, debaixo da linha de energia elétrica de alta tensão, há uma horta comunitária que abastece moradores do Jardim São Marcos e Jardim Itanguá, na vizinhança. Cerca de 300 metros de extensão do canteiro são divididos entre seis moradores que cuidam da horta. Cada um tem sua parte e plantam principalmente verduras. Mas também cultivaram maracujá e beterraba, entre outras espécies.
O aposentado Alcides Pereira de Souza, 61 anos, que trabalhou como mecânico de caminhões, cuida de uma parte da horta comunitária. Planta couve, alface e rúcula. A parte central da avenida não pode ter nenhuma construção por causa da linha de transmissão de energia e um acordo entre a Prefeitura e companhia de energia CPFL Piratininga concedeu o uso da área para a horta, que é cercada por alambrados. Mesmo assim tem gente que invade para pegar verduras e destruir os canteiros. "Se pegar um ou dois pés de alface não tem problema. Não pode é entrar para destruir", diz Alcides. O vandalismo ocorre, "mas a maioria dos moradores têm respeito pela nossa horta", descreve o aposentado.
Alcides mora há 40 anos numa casa na avenida Santa Cruz, perto da horta. Conta que levanta-se às 4h30 para molhar os canteiros e trabalha até o meio-dia. A água também é fornecida pela Prefeitura, segundo ele. Cada pé de alface é vendido por R$ 0,50 em média. Os compradores são moradores da vizinhança, mas vem pessoas de longe, de Brigadeiro Tobias e até outras cidades, diz o aposentado. As verduras da horta fazem sucesso porque são cultivadas sem agrotóxicos e fertilizantes químicos, portanto são orgânicas. "Uso esterco de gado e nada de veneno."
O lucro bruto que Alcides tem com a horta é de cerca de um salário mínimo. Desse valor, ele tira o custo das mudas, do esterco, ferramentas e utensílios. "Não trabalho pelo dinheiro, que é pouco. Para mim, é um lazer", conforme Alcides. A avenida tem bastante trânsito e alguns motoristas, geralmente de outras cidades, param o carro para ver a horta de perto. "Realmente chama a atenção, assim no meio da cidade", concorda o aposentado.
No ano passado, Alcides plantou maracujá, o que exigiu mais trabalho. Os pés deram frutos, vendidos a preço quase de custo aos moradores. Mas houve invasão do terreno e alguns pés foram danificados. Não há plano de ampliar a horta. "Não sei se tem mais gente que se interesse", segundo Alcides. Ele não sabe se um dia poderia plantar na zona rural, em área maior do que cuida atualmente. "Sou um agricultor da cidade", resume o aposentado.
A agricultura urbana, tradicional em cidades pequenas em que os quintais são aproveitados com hortas, também é comum em bairros periféricos, onde o custo dos terrenos é menor. Existe potencial de crescimento nas grandes cidades, principalmente em áreas degradas.
Em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo, um debate sobre agroecologia realizado no dia 5 de agosto tratou também da agricultura urbana como alternativa de renda em cidades e ao mesmo tempo opção ao consumidor de alimentos saudáveis e sem agrotóxicos. No município, há o Programa de Fomento às Hortas Urbanas de São Bernardo, que proporciona emprego e renda a 18 famílias. São utilizadas áreas ociosas e o objetivo é ampliar o programa.
Detroit, nos Estados Unidos - que já foi capital mundial da indústria automobilística e está falida economicamente - teve áreas urbanas degradadas transformadas em canteiros e estufas. Foi a alternativa encontrada por parte da população para gerar renda. Pátios de antigas indústrias e terrenos em que prédios foram demolidos deixaram espaços vazios na cidade, que foram reaproveitados dentro do conceito de agricultura urbana. (AE)
Fonte: Jornal Cruzeiro do Sul
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