Entrevista com Umberto Veronesi
A reportagem é de Corrado Zunino, publicada no jornal La Repubblica, 28-08-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis a entrevista.
Por que muito bom, professor?
Porque o consumo de carne é nocivo para a saúde humana e para a saúde do mundo.
Explique.
Se quisermos manter o equilíbrio do nosso planeta, devemos mudar os hábitos alimentares. Leonardo da Vinci e Albert Einstein haviam entendido isso um pouco antes de mim. Os povos que hoje não comem carne, com o crescimento econômico, vão querer se alinhar à cultura ocidental. Se chineses, indianos e brasileiros começassem a se alimentar nos nossos níveis, o consumo global de carne passaria de 220 milhões de toneladas para 460 milhões. Precisamos de um número de animais de pasto superior ao de seres humanos, insustentável para o ecossistema. Desses 900 milhões de homens e mulheres desnutridos, lembremo-nos, 158 milhões são crianças. Não é justo desequilibrar assim o mundo para satisfazer um bilhão de carnívoros em excesso.
Os obesos da Europa e da América do Norte.
No Ocidente, já são evidentes todas as doenças do excesso de comida: obesidade, problemas cardiovasculares, diabetes. Na Itália, 52 mil pessoas morrem por ano de causas relacionadas ao excesso de alimentos.
O consumo de carne é correlato ao aumento de tumores?
São as estatísticas que dizem: onde se consume mais carne há mais casos de câncer de intestino, mas a questão central é ética, de sustentabilidade ambiental e humana. Não podemos mais usar metade dos cereais e três quartos da soja produzidos no mundo para sustentar o crescimento dos animais de pasto enquanto uma parte da humanidade morre de fome.
Professor, pode-se viver e crescer sem comer carne?
É claro. Na natureza há tudo do que se precisa.
Vale a todos, mesmo para os adolescentes?
O touro é o animal mais proteico que existe e é herbívoro. Eu não acho que os seus músculos sintam o efeito disso. A carne não é necessária. Na Índia, onde não se come por motivos religiosos, as crianças crescem bem e têm quocientes de inteligência altíssimos.
Portanto?
É preciso incentivar no Ocidente uma redução do consumo de carne e incentivar para que, no Segundo e no Terceiro Mundos, não se assimile o nosso modelo. A cadeia da carne é cara: são necessários 15 mil litros de água para produzir um quilo, e as criações bovinas produzem 18% das emissões de dióxido de carbono. Tiremos a carne da mesa ao menos uma vez por semana e salvaremos o mundo.
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