Para prefeito, fotos foram mal interpretadas


Vitor Lippi e o veterinário da Zoonoses José Luiz Chiquito Filho - Por: Fábio Rogério
20/07/2012 | MORTE DOS CACHORROS


Notícia publicada na edição de 20/07/2012 do Jornal Cruzeiro do Sul, na página 12 do caderno A 

A repercussão das fotos de 30 animais mortos na Seção de Zoonoses de Sorocaba anteontem deixou o prefeito Vitor Lippi (PSDB) "aborrecido". Em resposta, ele convocou ontem à noite entrevista coletiva para lamentar o ocorrido e rebater interpretações "equivocadas" e "errôneas" sobre "um trabalho sério, necessário" que tem sido desenvolvido pela Zoonoses de Sorocaba.
"Lamento profundamente essa confusão que está sendo criada", afirmou. Segundo ele, os animais foram mortos por eutanásia, seguindo todas as normas do Ministério da Saúde: "Tudo foi feito de uma forma correta. Nenhum dos nossos profissionais fez nada errado.Todos os procedimentos foram absolutamente necessários." Ele disse que os funcionários têm sido alvo de ofensas, calúnias, difamações: "Quem é que vai ser responsabilizado por essa comoção municipal e esse prejuízo moral das nossas equipes?"

O veterinário José Luiz Chiquito Filho disse que todos os animais mortos estavam doentes. Dos 30 animais, eram 27 cães e três gatos, e estavam no freezer da Unidade de Controle Animal (UCA) enquanto aguardavam o atendimento da empresa responsável contratada pela Prefeitura para a coleta e transporte de animais mortos para a destinação correta. Dos 27 cães, três eram adultos e 24 filhotes. Dos filhotes, 10 foram submetidos à eutanásia no dia 17 por apresentarem "quadro clássico de cinomose, doença altamente contagiosa". De acordo com Chiquito, 99% dos animais que adquirem cinomose acabam morrendo. Ele afirmou que a doença não tem tratamento. Lippi acrescentou que ela é "quase incurável".

Em nota da assessoria de imprensa, a Prefeitura também não descarta a possibilidade de que o frio intenso dos últimos dias, principalmente durante a noite e madrugada, tenha sido uma das causas da morte natural de alguns animais. A nota acrescentou que, com o objetivo de proteger os animais do canil, a Prefeitura adquiriu novos abrigos, lonas e tapetes de borracha e a quantidade de ração também foi reforçada.

Para a Prefeitura, a divulgação das fotos pela imprensa e pelo Facebook teve o objetivo de "potencializar o impacto público em torno do assunto". Segundo Lippi, uma morsa que aparece em uma das fotos é utilizada para a contenção adequada da cabeça do animal que foi submetido à eutanásia para a retirada de parte do seu cérebro e posterior envio ao Centro de Controle de Zoonoses do Estado de São Paulo. Este procedimento é realizado em todos os animais mortos com suspeita de raiva na cidade. O encéfalo ou o sistema nervoso central são meios de diagnóstico da doença em cães e gatos.

Com o argumento de que não tem nada a esconder, Lippi disse que criou procedimento investigatório interno para verificar se há ainda questões a serem esclarecidas. Sobre o fato de o Ministério Público Estadual (MPE) ter instaurado inquérito civil para apurar o que ocorreu, ele afirmou: "Ótimo, nós queremos que haja isso." E afirmou que também vai registrar Boletim de Ocorrência na polícia por conta da divulgação das fotos. Afirmou que elas parecem montagem e não descarta intenções "político-eleitorais" na repercussão.

Lippi comparou as ocorrências a "grandes injustiças" feitas contra instituições de Sorocaba e região. Entre os exemplos, citou o Hospital Oftalmológico, que durante mais de um ano se esforçou para esclarecer que não jogava córneas fora, rebatendo uma acusação desse tipo. Outro exemplo foi o de uma entidade de proteção ao primatas, que também sofreu denúncias distorcidas de que cometia maus tratos contra os animais.

Debate

Em meio à coletiva, a participação da funcionária pública estadual Eliana Heleno Nazário, de 31 anos, e de Paola Gomes Correia, de 29 anos, deu um tom de debate ao encontro. Eliana perguntou a quem recorrer diante de situações em que cães são abandonados nas ruas. Diante da resposta de Chiquito de que o recurso é entrar em contato com a Zoonoses, ela disse: "Liguei dezenas de vezes, não tive nenhuma resposta." Paola, da ONG "Adote Sorocaba", afirmou: "A população não está sendo conscientizada da posse responsável." Diante delas e dos jornalistas, Lippi reconheceu: "Não temos recursos disponíveis para montar uma clínica."

Sobre a repercussão das fotos dos animais mortos, Eliana comentou: "A gente fica sem saber quem está falando a verdade." Paola ponderou: "É difícil a gente julgar. Temos que ser um pouco cautelosos e coerentes e aguardar que tudo seja esclarecido." O vereador João Donizeti Silvestre, do PSDB, bancada de sustentação de Lippi na Câmara, postou em seu perfil no Facebook, a informação de que se reuniu duas vezes com ONGs e o prefeito: "... visando sensibilizá-lo sobre a importância do tema em questão, porém no meu entender avançamos muito pouco". 

Ele deixou claro que a cidade conquistou um Comitê Municipal de Direitos dos Animais, criado por decreto do Executivo, "que ainda não desempenhou suas funções". Donizeti acredita que o MP possa exercer papel importante na apuração do que ocorreu no canil, mas espera que o órgão também tenha um "papel provocador" no sentido de cobrar das instituições a efetivação de políticas públicas para os animais. Escreveu que está elaborando um documento junto às ONGs, "questionando a Prefeitura sobre os fatos ocorridos".

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