Bioluminescência: Mas afinal o que é isso mesmo?

 

 

Bioluminescência, Parque Nacional das Emas, 2007. Foto: Simone Mamede
A curiosidade e a admiração pelos  cupinzeiros iluminados nas noites quentes e úmidas de primavera e verão datam desde o século XIII. Muitas impressões, teorias e lendas em torno desse fenômeno foram atribuídas ao longo dos últimos séculos, entre eles: evento  fantasmagórico, brilho dos cupinzeiros por estarem rodeados de insetos luminosos, bactérias luminescentes instaladas nos ninhos dos cupins, entre outros relatos e assombros. O que todos concordam é que se trata de um efeito estético mágico, espetacular e que atrai a admiração de todos quantos têm a oportunidade de encontrar tal maravilha na natureza.
 
Somente a partir do século XX, é que estudos começaram a ser realizados com o objetivo de conhecer melhor o fenômeno da Bioluminescência.
 
A bioluminescência é, na verdade, uma luz fria, não fosforescente, emitida por determinados organismos vivos com finalidades variadas, conforme a espécie e o grupo a que pertencem. Pesquisadores sugerem que os organismos que apresentam essa capacitadade de emissão de luz, a utilizam para atração de parceiros para a reprodução, atração de presas, como forma de defesa a predadores, entre outras inúmeras funções ainda não desvendadas pela ciência.
Bioluminescência. Foto: Mamede, 2007
Na região do Parque Nacional das Emas, onde a densidade de cupinzeiros pode atingir mais de 300 unidades por hectare, os organismos responsáveis pela bioluminescência são as larvas de uma espécie de vaga-lume, Pyrearinus termitilluminans, cujo nome científico está diretamente associado à luz (Pyrearinus: relacionado a fogo, luz), ao local onde as larvas se abrigam e ao efeito que produzem (termitilluminans: relacionado a termiteiro iluminado). Elas utilizam os cupinzeiros para proteção, abrigo e para a captura de suas presas, principalmente, insetos alados. Apenas a região anterior do corpo fica exposta durante a noite. As larvas, após capturar as presas levam-nas para dentro dos túneis para se alimentar. O fenômeno pode ser observado no Parque das Emas com maior intensidade na época que iniciam as chuvas no início da noite, principalmente quando ocorrem pancadas de chuvas nos dias mais quentes. Em estudo desenvolvido pela pesquisadora Ana Cláudia T.P. dos Santos, foi observado que larvas maiores ocupam a região mais alta dos cupinzeiros e que os cupinzeiros mais altos tendem a apresentar maior número de larvas. A pesquisa sugere que os ovos são depositados no solo, na vizinhança dos cupinzeiros, e após o nascimento das larvas é que estas passam a ocupar os cupinzeiros. Há fortes evidências de que as larvas não se alimentam dos cupins residentes, mas dos insetos na superfície e que podem, eventualmente, se alimentar também durante o dia.
Larva de vaga-lume (Pyrearinus termitilluminans). Foto: Mamede, 2007.
Essas larvas ocupam as galerias e orifícios presentes na superfície dos cupinzeiros e  impressionam no aspecto resultante. Várias comparações são feitas pelas pessoas que visitam o Parna Emas, algumas bastante criativas e curiosas, tais como: grandes cidades e seus edifícios com luzes acesas durante a noite, metrópoles e suas torres modernas vistas do alto, a Via Láctea no solo, céu estrelado visto de cabeça para baixo, lagartas de fogo habitantes de termiteiros, entre outras.
 
Quanto às estórias, estas, apresentam as mais variadas versões dependendo da mente criativa de cada observador. A beleza e encanto só podem ser percebidos e descritos, de fato,  assistindo ao fenômeno de perto. A bioluminescência só poderá ser presenciada por gerações futuras se o Cerrado for conservado e a proteção do Parque das Emas continuar efetiva.
 
Os visitantes e a comunidade local têm papel fundamental nesse processo ao conhecer, difundir, valorizar e evitar impactos sobre a biodiversidade reservada no Parque. Ao visitar o Parque no período da bioluminescência evite o excesso de lanternas acesas sobre os cupinzeiros, isto atrapalha o comportamento e sucesso alimentar das larvas. Se estiver em grupo evite que seus integrantes se dispersem no campo, de modo a evitar pisoteio na vegetação e no entorno dos cupinzeiros onde várias larvas recém eclodidas permanecem. Ao se aproximar do cupinzeiros evite conversa alta, além da possibilidade de visualizar elementos da fauna, como mamíferos, fica mais fácil identificar se o cupinzeiro está ocupado por abelhas, algo que merece a atenção.
 
Evite tocar as larvas ou retirá-las das galerias, se ali estão é porque precisam desse espaço para sobrevivência. Lembre-se: a satisfação e sucesso da sua visita só serão garantidos se os elementos da biodiversidade e seus processos vitais forem mantidos. Portanto, o bem-estar dos vaga-lumes dependem do nosso cuidado.

Visite o Parque Nacional das Emas: Patrimônio Natural da Humanidade. Encanto do Cerrado. Encontro com a vida.
                                                                                                        Texto de Maristela Benites
 
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